Uma quadrilha de meninas vem cometendo assaltos na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Um estudo mostra que elas entram no crime antes dos meninos e são mais agressivas do que eles.
Um sacolão fica em Ribeirão das Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte. No fim do expediente, a adolescente de roupa preta anuncia o assalto. Ela está acompanhada de outra menina, de blusa azul. Segundos depois, a garota tira uma arma da mochila da amiga e ameaça as funcionárias. A dupla leva todo o dinheiro do caixa.
?Xingava o tempo todo, falava que tinha gente lá fora vigiando. Foi de cara limpa mesmo e não estavam nem aí para nada?, conta uma mulher.
Na mesma noite, uma das meninas, já com outra roupa, tenta cometer mais um assalto. Chega à padaria, em um bairro vizinho, armada, e exige o dinheiro. Mas o revólver, que estava na cintura, dispara em direção à perna dela. Ela sai sangrando, em busca de ajuda.
?Ela colocou o revólver na cintura engatilhado. Ela mesma se desesperou. Pediu para chamar a polícia, pediu para chamar o Samu?, diz outra vítima. A adolescente, de 14 anos, está internada em estado grave. A outra, de 16, foi apreendida.
Um estudo feito pela Vara da Infância e Juventude de Belo Horizonte mostrou que entre os adolescentes infratores, 15% são meninas. É um índice considerado baixo pelas autoridades, mas alguns dados da pesquisa chamaram atenção: elas começam a praticar crimes mais cedo que os meninos e são mais agressivas do que eles.
Muitas se envolvem com a criminalidade ainda crianças. ?Eu tinha 11 anos. Comecei como usuária, vendia. Aí com 13 anos ?dei começo? de overdose de cocaína?, conta uma menina.
Uma jovem, de 16 anos, conta que assaltou várias lojas: ?A gente só queria dinheiro, só, para curtir mesmo?, conta.
Outra, de 18, abandonou a família para morar na casa de um traficante: ?Com 14 anos ele colocou o 38 na minha mão. Briga de namorado, eu já acertei dois namorados meus. Com facada?.
?São adolescentes sem perspectivas de vida, sem formação básica da família. Eles não demonstram nenhum sentimento ou responsabilização, implicação, com aquilo que eles estão fazendo. É uma banalização?, declara a juíza Valéria da Silva Rodrigues.