Quais circunstâncias levaram o motorista Oseas dos Santos Gomes, de 56 anos, a dormir na madrugada de domingo (22), quando o ônibus que ele conduzia na rodovia Régis Bittencourt, em São Lourenço da Serra (SP), caiu em uma ribanceira, matando 15 pessoas? Essa é a principal pergunta que o delegado Flavio Luiz Teixeira, que assumiu na segunda-feira (23) as investigações sobre o acidente com o veículo da Viação Nossa Senhora da Penha, quer esclarecer.
Em entrevista ao R7 na tarde desta sexta-feira (27), Teixeira revelou que os representantes da empresa de ônibus não compareceram na delegacia na última quinta-feira (26), conforme fora combinado. Sem justificar, nenhum advogado da Penha se fez presente, o que fará o delegado intimar a empresa formalmente até no máximo dia 3 de janeiro. Ele quer ter acesso a documentos que podem esclarecer muitos pontos ainda desconhecidos da investigação.
O mais importante diz respeito à escala do motorista nos últimos 15 dias. O delegado disse ter elementos de que Gomes teria se queixado a passageiros, na última parada em Registro (SP), que "estava cansado" e que "vinha trabalhando muito". A polícia sabe que o condutor não poderia percorrer mais de oito horas do percurso entre Curitiba e o Rio de Janeiro, local de chegada do ônibus, mas não sabe como andava a rotina de trabalho do profissional.
? O motorista, pelo que a gente já investigou e que já ficou mais ou menos provado é que ele dormiu. É o que eu disse antes. Só alteraria a tipificação dele no caso do [laudo] toxicológico, mas eu acho isso difícil. O que vamos nos concentrar agora é a questão da empresa, se ele estava sendo exposto a uma carga horária que colocava em risco aqueles que ele conduzia.
Teixeira reafirmou que o motorista deverá responder por homicídio culposo [quando não há intenção de matar] e lesão corporal, salvo algum fato novo apontado não só pelo laudo toxicológico [no local, o bafômetro não apontou embriaguez], mas também pelo laudo do tacógrafo, que irá apontar a velocidade que o ônibus tinha no momento do acidente. Além de ver o que chamou de "descaso" da empresa até aqui, o delegado crê que o condutor também pode ser uma vítima.
? No final, claro que ele [Gomes] vai responder por tudo, mas ele acaba até sendo uma vítima também nessa circunstância, porque ele está meio que sozinho e a responsabilidade não é só dele. Uma empresa grande, que tem uma tragédia dessas, o que era de se esperar é que um advogado já tivesse vindo aqui já no primeiro dia, para ver as providências e querendo que se apurasse, já com a documentação, para esclarecermos o que aconteceu e os motivos do acidente. E nada disso aconteceu até agora, não veio ninguém até agora. Há um certo descaso da empresa.
Ele completa:
? Acho que eles [Viação Penha] estão querendo jogar um pouco dessa responsabilidade em cima do motorista, que deve ter dormido, mas eles têm que ver porque ele dormiu, não é? Dessa responsabilidade é difícil eles se excluírem.
A concessionária Autopista Régis Bittencourt também será chamada pela polícia para prestar esclarecimentos. O delegado do caso quer saber se haveria alguma forma da queda do ônibus no barranco ter sido evitada
? Depois que chegar a perícia do tacógrafo, dando a velocidade exata do ônibus, vai ser requisitada uma perícia complementar para o IC [Instituto de Criminalística] ali na área, para saber se tivesse uma defensa metálica ou de concreto ali, se o ônibus cairia ou não na ribanceira. Pra esse tipo de perícia são necessários outros elementos, porque o cálculo é complexo. Você precisa da velocidade do ônibus, a tonelagem dele, o ângulo de inclinação da pista, então isso vai demorar um pouco ainda.