Apontado como principal mandante dos ataques ao Rio, o traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, deu nova ordem aos aliados: intensificar os ataques. A mensagem foi interceptada por gravações telefônicas, autorizadas pela Justiça, durante conversas entre três advogados do Rio que atuam em processos dos chefões do tráfico de drogas da facção criminosa Comando Vermelho (CV). Por coincidência, ontem foi o dia que registrou o maior número de veículos queimados: 40.
O conteúdo dos diálogos foi enviado ao governador Sérgio Cabral; ao presidente do Tribunal de Justiça, Luiz Zveiter; e à chefia do Ministério Público do Estado. Numa das conversas, duas advogadas, uma em Foz do Iguaçu, no Paraná, e outra em Brasília, falam que Marcinho foi taxativo: ?É para piorar os ataques?. Terceiro advogado também foi flagrado em outro diálogo servindo como ?pombo-correio? do tráfico.
Quarta-feira, Marcinho VP recebeu na penitenciária federal de Catanduvas, no Paraná, onde estava preso, a visita de um advogado e da mulher dele, que não atua em seus processos, mas também se apresenta como advogada. Ontem à tarde, o traficante foi transferido com outros 11 chefões do tráfico ? entre eles Marco Antônio Pereira Firmino, o My Thor; e Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco ?, para a penitenciária federal de Porto Velho, em Rondônia, a 3.500 quilômetros do Rio. Há dois meses Marcinho VP e My Thor foram colocados no regime disciplinar diferenciado (RDD), desde que foram apreendidas duas cartas que falam de represálias às Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs).
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Nacional, Ophir Cavalcante, voltou a defender os advogados em relação às suspeitas de transmissão de mensagens de chefes do tráfico de drogas. ?Sem provas, isso é leviano?, analisou Ophir.
Forças Armadas já atuaram outras vezes
Essa não é a primeira vez que as Forças Armadas atuam no Rio. Em 2007, o Exército patrulhou as ruas no entorno das unidades militares após série de ataques. Entre 2007 e 2008, o Exército esteve na Providência, no Centro. A ocupação foi marcada pela morte de três moradores inocentes da comunidade entregues pelos militares a traficantes de facção rival. As tropas foram obrigadas a sair pela Justiça.
As Forças Armadas também estiveram nas ruas em 2008 para garantir a segurança das eleições depois de candidatos serem ameaçados pelo tráfico ao irem a favelas. Em 1997, três mil militares ficaram na cidade devido à visita do então Papa João Paulo II.
Em 1992, durante a Eco-92, uma conferência da ONU para o meio ambiente que reuniu representantes de quase todos os países do mundo, as Forças Armadas também atuaram na segurança.Elas fazem parte do Gabinete de Gestão Integrada de Segurança do Rio de Janeiro.
Mais de 80 policiais civis investigam quadrilha
O chefe da Polícia Civil, Allan Turnowski, montou uma força-tarefa com foco principal as quadrilhas que dominam os complexos do Alemão e da Penha. A região tornou-se o principal esconderijo da facção Comando Vermelho, que tem como principais líderes Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, e Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, ambos presos fora do Rio desde janeiro de 2009. Em 2007, o jornalista Tim Lopes foi morto na região enquanto fazia uma reportagem.
Desde o início da semana, cerca de 80 agentes e oito delegados estão reunindo dados sobre o bando, que tem como principais líderes soltos Fabiano Atanásio da Silva, o FB, Paulo Rogério de Souza Paz, o Mica, e Luiz Cláudio Serrat Corrêa. Apesar de terem ameaçado ficar e lutar pelo terreno que dominavam, eles fugiram para o terreno vizinho, o Alemão, controlado por Luciano Martiniano da Silva, o Pezão. Lá, agora, está concentrada a maioria dos refugiados das favelas já dominadas pelas UPPs.
O comando do grupo está a cargo do subchefe Operacional, delegado Rodrigo Oliveira. E apesar do acordo descoberto entre o CV e a facção Amigos dos Amigos (ADA), que domina a Favela da Rocinha, uma ação na comunidade de São Conrado só acontecerá se os bandidos de lá entrarem na onda de ataques.