A cidade de Salvador deve receber, até o fim deste ano, a primeira Base Comunitária de Segurança, versão baiana para as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), implementadas no Rio de Janeiro desde o ano passado. O mesmo modelo foi usado, em novembro de 2010, durante a ocupação do Complexo do Alemão. O bairro escolhido na capital baiana é o Nordeste da Amaralina, que tem ação marcante de traficantes, segundo informações de Maurício Barbosa, secretário de Segurança Pública da Bahia.
Neste fim de semana, José Mariano Beltrame, secretário de segurança do Rio, disse que a estratégia de combate aos criminosos poderia ser "exportada". "Daqui podemos levar essas ações para outros estados e, quem sabe, diminuir o índice de criminalidade, que não é só o carioca que quer, é todo o Brasil que quer", afirmou.
Barbosa explicou que a parceria com o governo Federal, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Pronasci, prevê a instalação de 162 UPPs baianas no estado. "Isso vai acontecer ao longo de quatro a cinco anos. Seguindo o exemplo do Rio de Janeiro, através dos bens sucedidos programas de segurança lá aplicados, como também os desenvolvidos na Colômbia e em São Paulo."
O secretário da Bahia disse que, inicialmente, a instalação das UPPs baianas faz parte da necessidade de um programa de governo na área de segurança, o "Pacto pela vida". "A política vai convergir as ações de segurança, de policiamento ostensivo e preventivo da Polícia Militar, principalmente no que se refere ao policiamento comunitário. A presença será feita nas localidades mais vulneráveis ao trabalho de traficantes."
A escolha do bairro
A definição dos pontos onde serão instaladas a primeiras bases na Bahia foi feita através de um diagnóstico do departamento de inteligência da polícia baiana, principalmente no que se refere ao índice de homicídios e pontos onde atuam quadrilhas de tráfico de drogas em Salvador e na Bahia. "Temos 34 pontos mais quentes, considerados principais, no interior e na capital. Estabelecemos um cronograma de ação e agora precisamos do retorno do governo Federal para começarmos a atuar."
Segundo o secretário, o Bairro Nordeste da Amaralina se encaixa na estratégia de combate ao crime pelo alto índice de homicídios e bases permanentes de traficantes. "O segundo quesito é o que mais se enquadra com o Nordeste [da Amaralina]."
Acordo Federal
"Fui até Brasília na semana passada para afirmarmos o nosso interesse, junto ao Ministério da Justiça, sobre a instalação dessas bases. Nos foi confirmado, pelo menos, a liberação de verba para 50 bases na Bahia entre 2011 e 2012", afirmou Barbosa.
O sinal positivo do governo Federal vai permitir que a Bahia recrute e treine os policiais para atuar nas UPPs baianas. "Além disso, vamos começar a encontrar imóveis adequados para instalar as bases. Vamos tomando as medidas estratégicas administrativas para que, assim que forem liberadas as verbas, já tenhamos o projeto pronto para executá-los", disse o secretário da Bahia.
Tomada das áreas
A necessidade no Rio de Janeiro de uma intervenção bélica para a instalação das UPPS não deve ocorrer na Bahia, segundo Barbosa. "A nossa realidade aqui é diferente nesse aspecto. Pretendemos fazer a aproximação do policial na comunidade e evitar a presença dos marginais. Na Bahia, ainda não se vê os traficantes armados de fuzis, como no Rio, mas a presença desses traficantes nesses locais traz uma série de instabilidades na região e a sensação de insegurança."
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia vai fazer um trabalho prévio de identificação dos criminosos que atuam nos locais mais críticos do estado. Ele vai atrelar o trabalho da Polícia Judiciária para concretizar os mandados de busca e prisão, que serão os passos iniciais para o funcionamento das bases comunitárias.
Tráfico paulista na Bahia
"Nossa maior preocupação não é a participação de traficantes do Rio de Janeiro na Bahia, mas de traficantes de facções de São Paulo. São duas grandes facções que atuam aqui na Bahia e ambas comercializam entorpecentes repassados por criminosos de uma mesma facção de São Paulo", explicou o secretário.
"Vamos combater esses pontos de venda de drogas, feito pelo terceiro e quarto escalão de criminosos, pois os grandes traficantes da Bahia já foram presos e enviados para fora presídios de fora do estado. O nosso combate, hoje, será contra o tráfico no varejo. Temos a necessidade de garantir a sensação de segurança e darmos à sociedade uma solução de paz. A nossa prioridade é essa, mas também vamos pensar e planejar ações para a Copa, mas ainda não é esse o momento", disse Barbosa.
Homicídios
Barbosa anunciou, na semana passada, a criação de um departamento especializado em investigação de homicídios. O objetivo, segundo ele, é desafogar as delegacias de policiais sobre a apuração desse tipo de crime. Serão formados peritos e papiloscopistas com objetivo de criar melhores provas técnicas para os inquéritos. Ele disse que isso é um avanço aos investimentos feitos em tecnologia policial no estado, como banco de DNA, que teve parceria da Polícia Federal e do FBI, e identificador balístico. "A Bahia foi um dos primeiros estados a usar esse banco de DNA", disse o secretário.