Morreu nesta terça-feira (13) Maria José Pereira, de 67 anos, em Rio Branco. Ela é tia do goleiro Weverton, do Palmeiras, e estava internada no Pronto-Socorro da capital após passar mal em decorrência de uma invasão, por parte de agentes da Polícia Militar do Acre (PM-AC), na casa onde morava no Bairro Pista, região da Baixada da Sobral.
Na ocasião, a ação foi registrada por uma vítima e mostram o momento da chegada da PM à casa da família de Weverton. Segundo a advogada da família, Helane Cristina, a equipe policial entrou na casa sem mandado, atrás de um dos filhos de Maria José que já está preso há dois anos, e utilizou spray de pimenta.
Nas imagens, é possível observar uma sequência de gritos e empurrões, culminando com Manoel Ribeiro do Nascimento Neto, um dos policiais identificados, desferindo um tapa na mão do homem que estava filmando, fazendo com que o aparelho celular caísse no chão. Quando a gravação é retomada, os envolvidos na briga já estão do lado de fora da residência, e uma mulher é colocada na viatura policial.
"Devido ao estresse, minha mãe, que já tinha problema de coração, passou mal, deu água no pulmão, [levou] spray de pimenta na cara ela pegou também, estava aqui dentro vários netos dela, minhas irmãs foram presas, ela vendo as minhas irmãs presas daquele jeito, começou a passar mal, minha sobrinha falou que ela tinha problema no coração, o policial achou que era mentira, ele mandou chamar o Samu, que ele era polícia. De fato, ele é polícia mesmo, mas dava de ele ter visto que ela não estava brincando, que ela é mulher de idade. Acabou com as nossas vidas e machucou bastante, porque a perda da minha mãe foi de uma forma prematura. Ela estava boazinha, estava bem, brincando com os netos dela", disse Magno Silvano Pereira.
O sentimento do filho agora é por justiça. "A família é humilde aqui. Vamos tentar correr atrás pela memória dela porque querendo ou não, essa atitude ajudou a matar minha mãe. Ela estava boazinha, o coração dela não simplesmente parou, [ela morreu] devido essa atitude deu água no pulmão dela devido ao estresse, e o que aconteceu tá aí", comentou.
ADVOGADA AGREDIDA NA DELEGACIA
A advogada Helane Christina relatou que chegou à unidade e dirigiu-se à sala da PM, um espaço designado na Defensoria Pública do Estado do Acre (Defla). Ela reivindicou seu direito de permanecer no local e afirma ter sido empurrada durante a discussão pelo policial Manoel Neto (o mesmo da gravação).
"Eu cheguei e abri o portão, disse que era advogada e queria acompanhar minha cliente. Os policiais levantaram e disseram que eu não poderia ficar no recinto. Expliquei tudo, falei que poderia mostrar a lei, eu tenho direito, desde o momento que minha cliente estiver aqui eu posso acompanhar [...] Ele (Manoel) foi o único que me desrespeitou e disse que minha sala era do outro lado e eu não tinha direito de estar lá dentro, a sala era só da PM, eu expliquei que só queria acompanhar e não queria interferir no serviço deles”, disse, acrescentando que os outros agentes não estavam tão exaltados quanto o agressor.
RESPOSTA DA PM
Paralelamente à fatalidade, o comando-geral da PM-AC emitiu uma nota dizendo que tomará as medidas cabíveis ao caso mediante investigações.
"Informamos que a Corregedoria desta instituição, diante dos fatos narrados por familiares e advogados da família da senhora Maria José, está tomando as medidas legais cabíveis ao caso, inclusive com instauração de Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a conduta dos policiais envolvidos na citada ocorrência", disse a nota.
OAB ACOMPANHARÁ O CASO
A Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Acre (OAB-AC) emitiu uma nota na qual expressou seu apoio à advogada e declarou estar aguardando a completa apuração do caso. Além disso, a OAB enfatizou que considera o incidente como um exemplo de misoginia e condenou veementemente qualquer forma de excesso físico.
“A OAB aguarda a apuração dos fatos, entretanto, não há como admitir que uma advogada mulher seja desrespeitada por servidor público homem, no exercício de sua função. Notícias correm visando desconstituir a atuação da advogada. Entretanto, não se torna admissível excessos na atividade policial, que é uma atividade tão cara à sociedade”, afirmou a nota.