A Justiça determinou que a Polícia Civil tome providências sobre a condução do inquérito e da perícia no caso da mulher que foi baleada numa das mãos dentro do carro do jogador Adriano, na Barra da Tijuca, em dezembro de 2011. A decisão foi tomada após um pedido do Ministério Público. O promotor Márcio Almeida Ribeiro da Silva, do 9º Juizado Especial Criminal, aponta diversas falhas técnicas nos laudos, e também no inquérito.
? O meu pedido foi por causa da perícia feita, e também pela atuação do delegado ? explica o promotor.
A Justiça enviou um ofício à Corregedoria e à Chefia de Polícia Civil no mês passado, para que ?providências administrativas? sejam tomadas em relação à perícia no veículo e às investigações conduzidas pelo delegado Fernando Reis, à época titular da 16ª DP (Barra) e hoje diretor de Polícia Especializada.
Para Márcio Almeida, os laudos deixam de descrever diversas características importantes do veículo, como, por exemplo, se era blindado ou não, o que pode induzir ao erro, interferindo em conclusões importantes, como a trajetória do tiro disparado.
Ele aponta outros problemas, como a ausência de informações sobre o diâmetro do projétil e a munição. ?Quanto a estes fatos, podemos concluir que, face a ausências destas informações, é possível duvidar da conclusão do laudo?, escreveu o promotor em sua manifestação à Justiça. Outra falha apontada é o fato de a perícia ter indicado uma possível trajetória retilínea do projétil, sem levar em consideração o fato de o tiro ter atingido o dedo da vítima.
O promotor também critica a reconstituição feita pela 16ª DP. Entre as falhas, está o fato de a simulação ter ocorrido sem a presença de uma das mulheres que estava no carro. ?O que temos são laudos totalmente deturpados!! E tais laudos podem levar a conclusões equivocadas e tendenciosas!!?, escreveu.
Quanto à atuação do delegado Fernando Reis, o promotor questiona o porquê de ele ter enviado o inquérito para a 7ª Promotoria de Investigação Penal. Como se tratava de uma lesão corporal culposa (sem intenção de ferir), a atribuição seria do Juizado Criminal (Jecrim).
O promotor cita ainda o fato de a mulher atingida pelo disparo, Adriene Cyrilo Pinto, ter procurado o MP, em setembro, para modificar declarações dadas na delegacia, na época do acidente.
Ela afirmou que a arma não estava em suas mãos no momento do disparo, e que foi pressionada, na delegacia, a dizer que estava. Por duas vezes, ao ser ouvida, Adriene já havia falado que não estava com a pistola. Mas após a segunda vez, em 28 de dezembro ? e menos de duas horas após seu depoimento ? Adriene participou de uma acareação com o jogador, e disse que a arma estava com ela.
Procurado, o delegado Fernando Reis explicou que o inquérito não foi encaminhado para o Jecrim porque havia a possibilidade de que Adriene tivesse cometido denunciação caluniosa ? crime em que alguém culpa outra pessoa sem provas.
? Se, ao fim de um inquérito, o delegado, convencido pelas provas colhidas, entende que há uma situação criminosa, ele não pode se omitir ? afirmou ele. ? Fiz questão que todos os passos fossem acompanhados pela imprensa, por causa do fator Adriano. Vira uma novela. Espero que essa situação não se torne mais uma novela.
Procurada, a Polícia Civil não se pronunciou oficialmente sobre o caso.