A vida da família do deputado e empresário Luiz Carlos do Carmo, 54 anos, mudou há 129 dias, quando recebeu um telefonema, comunicando-o sobre a morte da sua filha mais velha, a advogada Michelle Muniz do Carmo, 30 anos. A jovem foi vítima de latrocínio, em frente a uma distribuidora de bebidas na Avenida T-63, no Setor Nova Suíça, bairro nobre de Goiânia. ?O choque é muito grande. Eu vou te falar do meu sentimento de pai. Uma morte dessas afeta a família toda. Todo mundo está adoecendo, a família está adoecendo?, revela o deputado.
Nesta terça-feira (28), a partir das 9h, cinco dos seis acusados de matar a jovem participarão de uma audiência de instrução e julgamento no Fórum de Goiânia, no Jardim Goiás, quando serão ouvidas testemunhas de acusação e de defesa. Os réus serão interrogados na mesma ocasião. A audiência será presidida pelo juiz da 5ª Vara Criminal, Enyon Fleury de Lemos. O promotor que fez a denúncia neste caso é Fernando Praga Viggiano. Está prevista uma mobilização de familiares e amigos da vítima, que cobrarão a pena máxima para os acusados.
Apego à família
Segundo o pai, Michelle era uma pessoa totalmente ligada à família, aos pais, avós e aos seis irmãos. Três do segundo casamento do pai e três do segundo casamento da mãe. ?Eu sou casado pela segunda vez. A Michelle é filha do meu primeiro casamento. Quando eu separei da mãe dela, ela tinha 3 anos e meio. Estou casado com a minha segunda mulher há 25 anos. Ela sempre morou comigo, nunca morou com a mãe dela?, conta.
Luiz do Carmo conta que está lutando para manter a família de pé. Na época do crime, duas das suas filhas estavam grávidas, uma delas mora no mesmo prédio em Michelle vivia e, segundo ele, chora todos os dias. A preocupação era fazer com que a perda não afetasse a gestação. ?O meu netinho morava no mesmo prédio que ela e sente muita falta dela. Todos os dias pergunta por ela?, diz.
A avó de Michelle, de 82 anos, mãe do deputado, também ficou muito abalada. Luiz do Carmo conta que parte da mobília da casa da idosa foi dada pela neta que foi assassinada. Agora, a senhora não consegue mais ficar na própria casa. ?A Michelle comprava tudo para ela e cuidava da minha mãe. A minha mãe sente muita falta dela. A Michelle tinha o poder de servir as pessoas?, declara saudoso.
Deprimido com a morte da filha, Luiz do Carmo conta que ficou sem ir à Assembleia Legislativa de Goiás nos primeiros 50 dias e que chegou a pensar em abrir mão do seu mandato de deputado estadual. Refletiu e decidiu permanecer e ter uma voz na Assembleia, junto aos colegas deputados.
Sentença
Segundo o promotor Fernando Praga Viggiano, apenas o suspeito de dar cobertura aos acusados do crime não será julgado por estar foragido desde o dia do homicídio. Depois do julgamento, haverá uma fase para reunir novos documentos aos autos, alegações finais e prazo de vista. ?Se nada for requerido pela defesa, juiz poderá dar sentença em dez ou 15 dias?, diz Fernando Praga Viggiano.
O promotor Viggiano afirma que pedirá a pena máxima para os acusados, devido ao comportamento agressivo dos acusados e planejamento do roubo que resultou na morte da jovem de 30 anos. ?Como apenas um deles já tem condenação na Justiça, uma pena justa seria de 23 a 24 anos de reclusão?, declara.
Ao todo, seis homens foram acusados de envolvimento na morte de Michelle: um teria atirado na jovem, outro teria entrado no carro dela e um terceiro teria dado cobertura ao crime, mas está foragido desde o assassinato e não será julgado nesta terça-feira. Outros três também serão julgados: o que teria emprestado o carro, o que teria emprestado a arma do crime e o que teria guardado a arma após o crime.
O último acusado é o único do grupo que não responderá pelo crime de latrocínio. ?Ele está sendo acusado de ter arma com numeração raspada dentro de casa. O que está previsto no artigo 15 do Estatuto do Desarmamento?, ressalta o promotor.
Para o deputado Luiz do Carmo, o Código Penal não atende aos anseios da população por segurança. ?Esses bandidos, mesmo que sejam condenados, pegarão no máximo 30 anos de prisão. No máximo em dez, 12 anos eles estarão livres e fazendo a mesma maldade?, lamenta. Na opinião do pai de Michelle, a certeza disso aumenta a certeza da impunidade.
O pai de Michelle comenta que, como deputado estadual, não pode lutar por mudanças na lei de latrocínio. Ele pensa em começar, como cidadão, nos moldes do que aconteceu com a Lei da Ficha Limpa, um projeto de iniciativa popular para aumentar a pena máxima para o crime de latrocínio para no mínimo 50 anos, sem direito a progressão de regime.
?Eu quero fazer igual ao Ficha Limpa que pegou um milhão de assinaturas e mudou tudo. Quero ver se pego no Brasil uns dois milhões de assinaturas para mudar a lei de latrocínio?, comenta.
O empresário tem consciência de que se esta mudança ocorrer, não virá a tempo de ser aplicada nos acusados pela morte da filha. ?Quero fazer isso pela sociedade futura. Desde que isso aconteceu com a Michelle, fui procurado e soube de muitos casos de latrocínio?.
Negócios
Além da relação familiar próxima, Michelle e o pai eram unidos pelo trabalho. Apesar de ser formada em direito, a filha administrava os negócios e a vida financeira da família. ?Desde pequena, ela trabalhava comigo. Eu a preparei para cuidar das nossas empresas para eu entrar na política. Ela era junto comigo 24h. Eu pensava, ela sabia?.
Por conta da atuação parlamentar, o deputado diz que não sabia o que era assinar um cheque há seis anos. ?Eu ia ao escritório toda sexta-feira e perguntava a ela se estava tudo bem, se precisava de alguma coisa, e ela me dava R$ 300 em dinheiro para gastar livre. Eu tinha de prestar conta de todo o resto dos meus gastos para ela. Eu era dependente dela. A minha família era dependente dela?, conclui. ?Até a minha mulher falava direto com ela sobre dinheiro e não comigo?.
Quatro meses depois do crime, ninguém assumiu o lugar que de Michelle nos negócios. ?Não dou conta de por uma pessoa no lugar dela?, lamenta o pai. Luiz do Carmo passou a ir para a empresa durante as manhãs para despachar, mas está fechando a transportadora onde Michelle trabalhava para abrir outra empresa do ramo, com outra razão social e Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) em outro local. ?Essa tem a cara da Michelle?, explica.
O processo todo deve levar alguns meses e o empresário espera conseguir viver um pouco melhor com essas mudanças. Ele conta que ainda é difícil lidar com tudo o que diz respeito à filha mais velha. ?É difícil pensar que ela morreu. Na maioria das vezes me pego pensando que ela está viajando. Só me dou conta de que ela faleceu quando eu me lembro do caixão. Pus a mão nela e vi que estava fria?, emociona-se.
Além da empresa, Luiz do Carmo afirma estar mudando de casa. Ele, que não voltou mais ao apartamento onde a filha morava sozinha no Setor Nova Suíça, também quer que uma das filhas, que era vizinha de Michelle, e até mesmo a sua mãe se mudem. ?Mas mudar de uma hora para outra não é fácil?, assume.
Câmeras
Luiz do Carmo conta que na véspera do assassinato tinha chegado de uma viagem de trabalho no Tocantins. Ele pediu para ela não sair naquela noite. ?Ela me respondeu dizendo que iria sair, mas que no dia seguinte iria para a chácara da família?, recorda-se. Ele recebeu o telefonema sobre a morte da filha às 3h15 do sábado, dia 21 de abril.
O assassinato da jovem foi registrado por câmeras de segurança próximas ao local do crime, uma distribuidora de bebidas 24h, que ficava a 300 do apartamento da vítima. A polícia apurou que Michelle havia saído de uma festa, deixado uma amiga em casa e passado no estabelecimento para comprar uma bebida. Ela levou um tiro no peito durante uma tentativa de roubo do seu carro, um Honda Civic.
?Disseram que quando ela estava lá, chegou um caboclo atrás dela. Ela o viu e pensou que era um freguês. Quando ela olhou para o carro, viu que tinha um rapaz sentado no carro dela. Ela foi lá e sentou no banco no banco do passageiro para pedir para o cara não roubar o carro dela. Ela abriu a porta do passageiro e pediu para o cara não roubar o carro dela. Aquele homem que estava do lado de fora foi até lá e atirou. Ela levantou o bracinho [direito] para se proteger. O tiro acertou o bracinho dela. O cara sabia que ela não tinha a mãozinha [direita, devido a um problema de nascença]. Então, é uma maldade muito grande isso aí?, relata o pai, que não conseguiu assistir ao vídeo do crime.
Segundo Luiz do Carmo, a prisão dos suspeitos menos de uma semana depois do homicídio ocorreu graças às câmeras de segurança dos prédios da região. ?O crime foi descoberto rapidamente, não pelo fato de ela ser filha de deputado, mas por causa da câmera. A polícia começou a pegar as imagens das câmeras de segurança da região. Para ver quem tinha passado por lá naquele período. Foi quando eles viram um Celta prata. Aí descobriram quem a matou?, comenta.