Traficante Nem diz em depoimento que tentou se entregar três vezes

A afirmação foi feita durante audiência de processo no qual é acusado de ter oferecido R$ 20 mil a policiais militares.

O ex-traficante Nem. | Divulgação
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O traficante Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, falou ontem à Justiça que tentou se entregar três vezes às polícias Civil, Militar e Federal nos últimos anos. As negociações não teriam ido à frente porque, segundo o traficante, as autoridades queriam que ele delatasse policiais corruptos.

A afirmação foi feita durante audiência de processo no qual é acusado de ter oferecido R$ 20 mil a policiais militares do Batalhão de Choque para que não o prendessem, durante tentativa de fuga na mala de um carro, em novembro. Os advogados Luiz Carlos Azenha e Demóstenes Armando Dantas Cruz também são réus no processo. De acordo com Nem, o advogado dele à época, Jaime Fusco, que hoje voltou a defendê-lo, foi pessoalmente à Secretaria de Segurança e à Superintendência da Polícia Federal para negociar a rendição.

?Eles queriam que eu delatasse (os policiais corruptos), mas eu não tenho quem delatar. A vez que chegou mais perto foi quando o AfroReggae tentou negociar. Porque eles disseram que não precisava delatar?, disse o traficante, por videoconferência. Ele está preso na Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

Vestindo camisa do presídio na cor azul, o ex-chefe do tráfico na Rocinha respondeu a todas as perguntas com tranquilidade e sempre se referindo ao juiz e ao promotor como ?senhores?. O único momento em que demonstrou irritação foi durante perguntas sobre de quem seriam os 60 mil euros encontrados numa bolsa, dentro do carro, na fuga. ?Não sei. O dinheiro que eu levei foram R$ 60 mil (também apreendidos) para o advogado atuar em dois processos que tenho da Polinter?.

Nenhum dos réus soube explicar de quem eram os euros. Os advogados Luiz Azenha e Demóstenes sustentaram que estavam negociando a rendição do traficante com a Polícia Civil. Em depoimento à PF, no dia da prisão, no entanto, Azenha afirmara que Nem pedira para ser deixado na Dutra e que teria oferecido dinheiro para isso. Ontem, ele disse que gostaria de alterar este trecho do depoimento.

Um dos momentos mais comentados na audiência de ontem foi quando um dos PMs responsáveis pela prisão, tenente Ronald Cadar, do BPChoque, disse que foram apreendidos com Nem 35 saquinhos de leite em pó desnatado.

Segundo o PM, o traficante não pode tomar qualquer tipo de leite. ?Nem disse que só toma leite desnatado?, revelou, informando que foi constatado que a substância era mesmo leite e o material não foi apreendido.

Nem afirmou que, da mala do carro, não ouvia o que os advogados conversavam, por causa da música alta: ?Eles estavam escutando música de candomblé ou de umbanda e eu não ouvia?. Nem foi preso às vésperas da ocupação na Rocinha. Um terceiro advogado, que fingiu ser cônsul do Congo, os acompanhava e chegou a ser detido.

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