Inspirados no sucesso das manifestações convocadas pelas redes sociais, mas sem o mesmo intuito positivo, homens que seriam traficantes da Nova Holanda comemoravam a morte do sargento do Bope, lamentavam a de suspeitos e organizavam pelo Facebook atos de violência em repúdio à operação do Bope.
Sem medo da exposição, suspeitos exibiam fotos em seus perfis e já se mostravam organizados. Em tom de ameaça, um suposto criminoso que se identifica como ?Tatajuba Silva? prometia ataque em massa contra os policiais de madrugada.
Já o ?Menor Rai? postou vídeo de policiais falando sobre a dificuldade de trabalhar em morros. Outros torciam pela recuperação de bandidos feridos.
O professor Carlos Nepomuceno, 53 anos, que é especialista em mídias sociais e leciona há 10 anos no MBA do Coppe/UFRJ, comentou o tema:
?Pedófilos já utilizam essa ferramenta há muito tempo. O projeto de terrorismo do 11 de Setembro, nos Estados Unidos, também foi articulado pela internet?, relembrou o professor. Ele acredita que o Brasil terá que criar antirredes inteligentes para desarticular essas organizações.
Guerra às vésperas de ocupação
Às vésperas de uma ocupação definitiva pelas forças de segurança na Maré, a guerra entre policiais e traficantes ontem naquele conjunto de favelas deixou rastro de nove mortos, protestos e revolta de moradores ilhados pela violência.
Os confrontos mais intensos foram travados a partir da noite de segunda-feira, quando policiais dos batalhões de Choque e de Operações Especiais (Bope) tentaram reprimir arrastão promovido por bandidos da Nova Holanda.
A morte de um sargento da tropa de elite desencadeou megaoperação que cercou a Maré com 400 agentes de quatro unidades por tempo indeterminado.
Entre os mortos, ao menos três moradores da comunidade: José Everton Silva de Oliveira, 21, o garçom Eraldo Santos da Silva, além de adolescente de 16 anos. O tiroteio durou cinco horas e podia ser ouvido da Avenida Brasil, onde muitos moradores permaneceram durante a madrugada de ontem, sem conseguir chegar em suas casas.
Alguns pontos da favela ficaram sem luz. A Força Nacional de Segurança deu apoio à operação.
A ação da polícia em busca dos assassinos do policial Ednelson Jerônimo dos Santos Silva, de 42 anos, foi criticada por moradores e representantes de ONGs que atuam no complexo. Eles fizeram dois protestos, um deles pacífico, no interior da Nova Holanda.
?A mesma rajada de tiros atingiu nosso policial, o morador que morreu e deixou algumas pessoas feridas?, alegou o major Ivan Blaz, porta-voz do Bope.
À espera de laudos
A Divisão de Homicídios (DH) ? que assumiu as investigações sobre as mortes ? e a 21ª DP (Bonsucesso) fizeram perícias. ?Se houve excesso, será reprimido. Se houve legitimidade, vamos legitimar a ação. Mas temos que esperar os laudos. A investigação não acabou?, disse o delegado Rivaldo Barbosa, da DH.
O subprocurador-geral de Justiça de Direitos Humanos e Terceiro Setor, Ertulei Laureano Matos, se reuniu nesta terça-feira com moradores e a deputada estadual Janira Rocha (Psol), numa ONG na favela.
O Ministério Público solicitou à Light a religação da luz imediatamente. A visita foi acompanhada pelo procurador Márcio Mothé Fernandes.
Perícia é acompanhada por defensores de Direitos Humanos
A perícia no local foi acompanhada por membros do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública e do Conselho de Defesa dos Direitos Humanos do estado.
?Há muitas marcas de bala e sangue, projéteis pelo chão e portas arrebentadas. Com certeza, foram mortos em casa. Vamos acompanhar para saber se houve execução?, afirmou o defensor Henrique Guelber.
Três menores foram apreendidos, e três homens, presos. Eles estariam com drogas e pistola. Edvan Bezerri, o Ninho, de 29, foi interrogado sob suspeita de ter matado o sargento.
?Ele estava dormindo comigo, não há provas. Tive que trocar de roupa na frente de PM e levei tapa na cara?, disse a mulher do suspeito, de 15, grávida.
Protestos na Av. Brasil e na comunidade
Nesta terça-feira, dois protestos foram registrados na Nova Holanda. No primeiro, 100 crianças e adolescentes tentaram fechar a Av. Brasil. Os PMs dispersaram o grupo com bombas de gás. Jovens gritavam palavras de ordem contra as UPPs.
Pouco depois, moradores e representantes de ONGs fizeram diferente: marcharam na Rua Teixeira Ribeiro, carregando faixa preta com a frase: ?A polícia que reprime na avenida é a mesma que mata na favela?.