O número impressiona, mas reflete a mais absoluta - e sangrenta - realidade do envolvimento de jovens fortalezenses no mundo das drogas. Do começo do ano até o último dia 16, nada menos, que 42 adolescentes - na faixa etária entre 13 e 17 anos - foram assassinados na Grande Fortaleza, a maioria por conta de dívidas contraídas - e, claro, não quitadas - com traficantes da periferia. Os números representam um aumento de quase 50 por cento em relação a igual período de 2008.
Somente no período da Semana Santa foram quatro casos de assassinatos de adolescentes, nas ruas da Pajuçara (em Maracanaú), Canindezinho, Cigana (em Caucaia) e Pedras (na Messejana). Os índices avançam todos os meses. Em janeiro, foram nove assassinatos. Em fevereiro este número subiu para 12. Em março, 14 casos. Agora, em abril, já são sete jovens fuzilados nas ruas da Capital e Região Metropolitana. Detalhe: dos 42 assassinatos de adolescentes em 2009, apenas dois foram praticados sem o uso de armas de fogo (ver quadro abaixo).
Números
O levantamento foi feito pelo Diário do Nordeste a partir dos registros dos homicídios da Coordenadoria Integrada dos Órgãos da Segurança (Ciops), das delegacias distritais e do Instituto Médico Legal Doutor Walter Porto (IML de Fortaleza). No ano passado, cerca de 45 adolescentes foram mortos no primeiro semestre. Este ano, já são 42 em apenas quatro meses. Conforme dados da própria Polícia, a maioria dos crime em que as vítimas são adolescentes, a ação dos traficantes está por trás dos matadores.
Para o diretor do Departamento de Polícia Especializada (DPE), da Polícia Civil, delegado Jairo Pequeno, as estatísticas refletem a ação, cada vez mais ousada, dos traficantes que atuam na periferia de Fortaleza. ?A cada dia eles usam mais os adolescentes como ?mulas? ou ?aviões? para transportar, vender e negociar a venda das drogas, além de viciá-los. Os adolescentes também são usados para a prática de outros crimes, como assaltos a residências, roubos a coletivos e até o cometimento de latrocínio, como ocorreu, recentemente, no bairro Parquelândia. O que acontece é que eles (traficantes) sabem que, no caso de uma prisão em flagrante, os adolescentes são regidos por outro tipo de lei, no caso, o Estatuto, com penas mais brandas que aquelas previstas na Lei dos Entorpecentes?, explica Jairo Pequeno.
No levantamento estatístico feito pelo Diário, bairros como o Bom Jardim, São Miguel (em Messejana), Conjunto Palmeiras, Bonsucesso e o distrito de Pajuçara, em Maracanaú, surgem como aqueles onde ocorrem, em maior incidência, os assassinatos de adolescentes. Nestes locais também a Polícia já mapeou e ´estourou´ diversos pontos de drogas.
FIQUE POR DENTRO
Execuções viram desafio para a Segurança Pública
Os assassinatos de adolescentes nas ruas e avenidas da Grande Fortaleza, principalmente nos bairros da periferia, tornaram-se um verdadeiro desafio para as autoridades da Segurança Pública. O juiz da Infância e da Adolescência da Capital, Darival Bezerra Primo, considera que muitas mortes são determinadas pelos traficantes e outras praticadas por milícias ou grupos de extermínio. ´O próprio secretário da Segurança Pública já admitiu a existência desses grupos criminosos que atuam na nossa Capital´, diz o magistrado.
Para chegar aos números exatos da violência, o Diário do Nordeste faz, diariamente, o acompanhamento dos registros de homicídios na Capital e nos Municípios que compõem a Zona Metropolitana.
Do dia 1º de janeiro até a noite da última sexta-feira (17/04) já haviam sido contabilizados 321 homicídios na Grande Fortaleza, sendo 42 deles de adolescentes executados. A maioria dos casos está ligada ao tráfico de entorpecentes. Matérias já publicadas pelo Diário revelaram o avanço do consumo de crack na Capital.