Nos últimos dias o eixo Rio/São Paulo tornou-se palco de grandes artistas internacionais. Milhares de fãs se deslocaram às metrópoles para assistirem apresentações da banda RBD e da cantora Taylor Swift.
Contudo, o que se testemunhou foi o aspecto mais sombrio da cidade. Dois jovens turistas sul-mato-grossenses, que vieram realizar o sonho de ver de perto a estrela pop Taylor Swift, perderam a vida — Ana Clara Benevides passou mal diante do palco, e Gabriel Mongenot Santana Milhomem Santos foi esfaqueado na madrugada deste domingo na areia da Praia de Copacabana.
Em meio a uma onda de calor extremo, os espectadores que foram assistir ao show no Nilton Santos, na Zona Norte do Rio na última sexta-feira, permaneceram por horas sob o sol escaldante para entrar no estádio e, na saída, enfrentaram arrastões e taxistas exigindo valores extorsivos pelas viagens de volta para casa.
Estudante morto durante assalto
Gabriel, um jovem de 25 anos e estudante de engenharia espacial em Minas Gerais, estava descansando na praia ao lado de um grupo de amigos, que conversava na principal atração turística do Rio, por volta das 3h.
O grupo foi abordado por dois assaltantes na altura da Rua Figueiredo Magalhães, a poucos metros do batalhão da PM de Copacabana. Segundo depoimento prestado à Polícia Civil, uma das vítimas relatou que Gabriel acordou assustado com a chegada da dupla e, nesse momento, foi esfaqueado no peito.
A mesma testemunha informou aos investigadores que os criminosos estavam visivelmente agitados, agredindo o grupo repetidamente e ameaçando matar quem se levantasse. Durante o assalto, os agressores roubaram a chave de um veículo e dois telefones celulares.
Os dois suspeitos são conhecidos na região de Copacabana, onde são vistos como moradores de rua. Um deles, Anderson Henriques Brandão, foi detido pela PM na manhã seguinte no bairro. Ele foi reconhecido por testemunhas e confessou sua participação no crime. Anderson já teve 56 abordagens policiais e acumula 14 registros criminais. Ele foi preso junto com Alan Ananias Cavalcante, que possui extensa ficha de antecedentes, mas não foi identificado pelos amigos de Gabriel.
Na tarde seguinte, o segundo suspeito foi encontrado por policiais da 13ª DP (Copacabana) na Lapa, outra área turística com presença significativa de moradores de rua. Jonathan Batista Barbosa, de 36 anos, é identificado pela polícia como o responsável pelas facadas.
Tanto ele quanto Alan foram detidos na sexta-feira anterior por envolvimento no furto de 80 barras de chocolate, sendo posteriormente liberados pela Justiça no sábado, 12 horas antes do ocorrido latrocínio na praia. Jonathan possui seis registros criminais, incluindo homicídio, roubo, porte de arma de fogo, lesão corporal, furto e receptação. O governo do estado divulgou em comunicado à imprensa que o crime foi esclarecido em 12 horas.
Outra vítima deste fim de semana foi Ana Clara Benevides, uma estudante de 23 anos cursando psicologia, que fez sua primeira viagem de avião para assistir ao show de Taylor Swift no Rio. Ela chegou cedo ao Nilton Santos na última sexta-feira, quando a temperatura oficial atingiu 39,1ºC na cidade. Estava próxima ao palco por volta das 20h quando desmaiou. Encaminhada para o Hospital Salgado Filho, infelizmente não resistiu. Segundo uma análise preliminar do Instituto Médico-Legal (IML), Ana Clara não apresentava qualquer doença infectocontagiosa.
Com um laudo de necropsia inconclusivo e a necessidade de realizar exames de toxicologia e histopatologia, a Polícia Civil só conseguirá determinar a causa da morte da vítima em até 30 dias. A delegada Juliana Almeida, titular da 24ª DP (Piedade), informou que Ana Clara teve três paradas cardiorrespiratórias, mas que ainda é prematuro afirmar a razão do óbito.
O laudo de necropsia não foi conclusivo, e o perito solicitou exames complementares. Apesar de o laudo indicar que a hemorragia no pulmão pode ser um caso de insolação, ainda não é conclusivo. É prematuro afirmar que ela morreu por causa do calor. Outras causas não estão descartadas — explicou a delegada.
A empresa T4F, organizadora do evento, lamentou a morte e afirmou que Ana Clara “foi prontamente atendida pela equipe de brigadistas e paramédicos”. José Weiny Machado, pai da vítima, disse que, até sábado, não tinha sido procurado pela empresa.
Mas a bandalha não tem limites e chegou até à comitiva de Taylor Swift. Os veículos que transportavam a cantora e sua equipe circularam pela cidade com as placas cobertas por sacos plásticos pretos. A Polícia Civil chegou a apreender os carros, mas eles já foram devolvidos porque não houve flagrante. Em declaração na delegacia, os motoristas alegaram que foram orientados por guardas municipais a cobrir as placas para trafegar em faixas exclusivas. O caso está sendo investigado.
Procurados, o prefeito Eduardo Paes e o governador Cláudio Castro não se pronunciaram.