Gravação mostra um ex-líder negociando fuzil com Nem; foto

Ex-líder comunitário nega acusações; ele é assessor de vereadora do Rio

Vídeo mostrou William da Rocinha (à esquerda) negociando com o traficante Nem (de boné) | Reprodução
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Um vídeo de 18 minutos gravado por uma moradora da Rocinha, na Zona Sul do Rio, levou a polícia a prender o ex-líder comunitário da Rocinha, William de Oliveira, nesta sexta-feira (2). Segundo a polícia, as imagens mostram William negociando um fuzil com o traficante Antonio Bonfim Lopes, o Nem, ex-chefe do tráfico da Rocinha.

A polícia informou ainda que o vídeo foi entregue por uma mulher ao delegado da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) logo após a ocupação da comunidade. No vídeo, segundo a polícia, há um terceiro envolvido que ainda está foragido. As imagens, que foram apresentadas aos jornalistas durante coletiva nesta sexta, mostram William recebendo dinheiro de Nem. Mas o conteúdo integral do vídeo ainda não foi disponibilizado pela polícia.

"É muito claro a participação, o envolvimento, a ligação do William, ex-presidente da associação de moradores da Rocinha, com o traficante Nem", afirmou a chefe de Polícia Civil do Rio, delegada Martha Rocha, acrescentando que a ajuda das mulheres da Rocinha foi fundamental para o caso. "No exame do local, a gente pode dizer que o local é o mesmo, a imagem do Nem, os traços físicos são semelhantes ao momento em que ele foi preso. Então não há dúvidas da veracidade dessa imagem".

"Na verdade essa imagem nos leva a crer num encontro para tratar exatamente da compra e venda de um fuzil. Mais adiante a gente vai perceber que os autores recebem dinheiro do pagamento dessa arma. Portanto, eles recebem um percentual que é o resultado da compra e venda de uma arma que com certeza matou muitas pessoas do bem, com certeza atingiu pais de família e homens de bem", considerou Martha Rocha.

Durante a apresentação do preso, nesta sexta, ele negou o envolvimento com o tráfico de drogas. "Foi uma armadilha. Eu não estava vendendo fuzil. Minha família não sabe disso. A vereadora não sabe disso. Esse dinheiro foi uma doação para a minha campanha. Devolvi o dinheiro lá embaixo depois. Nâo sou criminoso. Estão tentando destruir a minha vida", disse William.

Para Martha Rocha, o dinheiro visto no vídeo é ilícito. "É importante dizer que o William já afirmou que essa imagem é verdadeira e que ele recebeu esse dinheiro por conta de uma campanha política na qual ele foi candidato. Esse dinheiro é um dinheiro ilícito, seja como um percentual de venda de uma arma ou como percentual de uma campanha política, a origem desse dinheiro é ilícita. Portanto não há dúvida que o William está na associação ao tráfico", constatou a delegada.

Assessor de vereadora do Rio

William trabalha como assessor da vereadora Andrea Gouvêa Vieira e, segundo ele, o dinheiro dado por Nem foi para a campanha dele, que concorria a uma vaga de deputado estadual nas eleições de 2010.

Em nota, a vereadora Andrea Gouvêa Vieira afirma que "tomou iniciativa de esclarecer que William de Oliveira é seu assessor desde 2007. Ele é nomeado oficialmente pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro e a vereadora tem plena confiança nele".

De acordo com a assessoria da vereadora, William de Oliveira é auxiliar de gabinete e ganha R$ 4 mil mensais.

Após saber das imagens da polícia, a vereadora afirmou ao RJTV que recebeu a notícia com surpresa. "Com espanto enorme, com preocupação. Evidentemente, era uma pessoa que gozava da minha confiança, trabalha comigo há muitos anos. Soube que agora foram divulgadas fotos que mostram a suposta negociação de armas, com dinheiro envolvido. Vamos aguardar para ver o que mais a polícia vai apresentar, mas posso te dizer que se isso tiver alguma verdade, se isso realmente aconteceu, será a maior decepção política que eu vou ter na minha vida", disse Andrea Gouvêa Vieira.

Durante a coletiva, o delegado da DRFA, Márcio Mendonça, informou que a vereadora Andrea Gouvêa Vieira será intimada a prestar esclarecimentos sobre o cargo de Wiliam em seu gabinete. Ainda segundo o delegado, há alguns anos, uma interceptação telefônica flagrou um contato de Wiliam com um ex-traficante da Rocinha.

Na casa de Wiliam de Oliveira, a polícia encontrou 10 celulares e um computador.

Documentos serão periciados

Segundo policiais Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), William da Rocinha é acusado de associação para o tráfico e venda de arma de uso exclusivo das Forças Armadas.

"A Polícia Civil tem condições de afirmar que ele era ligado ao tráfico de drogas, inclusive participou de venda de arma para o traficante Nem. Podemos afirmar que temos provas suficientes que ele era conivente", afirmou o delegado Márcio Mendonça, acrescentando que outras pessoas envolvidas também vão ser presas.

De acordo com o delegado, agentes cumpriram mandado de busca e apreensão na casa do ex-presidente da associação de moradores da Rocinha e as investigações continuam. "Apreendemos computadores, documentos. Esses documentos vão ser periciados", disse Mendonça.

Nesta sexta (2), a polícia cumpre mandados de busca e apreensão na casa do traficante Nem, apontado como chefe do tráfico da Rocinha, que foi preso no início de novembro, às vésperas da ocupação policial nas favelas da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu. Ele cumpre pena no Presídio Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e também vai responder por esses dois crimes.

"Por essa investigação nossa conseguimos provar que o Nem estava envolvido na compra de armas. A ação foi contra ele e contra as pessoas ligadas a ele", completou o delegado Márcio Mendonça.

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