Viúvo da universitária Jaqueline Madeira do Nascimento, de 29 anos, o engenheiro civil e sargento do Corpo de Bombeiros Anderson Costa da Silva, de 35, publicou, em seu perfil no Facebbok, uma carta na qual conta a sua história de amor com a mulher, morta neste sábado ao tentar defender de assaltantes a filha de 2 anos do casal. Anderson lembrou ter conhecido Jaqueline quando ambos ainda eram crianças - ela com 2 e ele com 7 anos. E falou também do início do namoro, quando ela completou 19 anos.
O casal construiu junto a casa onde morava, na Rua Caiuá, em Colégio, na Zona Norte do Rio - o crime foi em frente à residência. Grávida, Jaqueline ajudou o marido na obra: ?Não tínhamos nada e ela me ajudava a subir os tijolos com uma barriga de 3 meses. Fizemos nossa casa?. Ele lembrou também que o casal passou fome no início do casamento, mas conseguiu superar junto a dificuldade: ?Passamos até por necessidades de alimentos, mas sempre estivemos juntos?.
Anderson chamou Jaqueline de ?alma gêmea? e pediu uma oração para a universitária: ?Meus amigos, dediquem um minuto e façam uma oração pedindo paz e tranquilidade nesta nova jornada que ela atravessa.? Ele lembrou ainda dos dois filhos do casal - ?Eu estou feliz porquê posso dizer que tenho duas jóias, uma com a cara e outra com seu temperamento? - e se despediu falando que está feliz: ?Eu estou feliz porquê amei e fui amado (...) Te amo para sempre?.
Leia a íntegra da carta de Anderson:
?Amigos, eu tive a oportunidade de encontrar um anjo que se apresentou como gente na minha vida.
Nos conhecemos ainda na infância ela com 2 e eu com 7, o mundo deu voltas e quando ela tinha 19 começamos a namorar, em 2005 ficamos sabendo que a Rafinha estava chegando e marcamos o casório.
Não tínhamos nada e ela me ajudava a subir os tijolos com uma barriga de 3 meses. Fizemos nossa casa, e neste tempo moramos num quarto e depois numa meia água. Partimos pra dentro com apenas um quarto e banheiro e depois fomos fazendo as outras paredes, a Rafa já estava com uns 3 ou 4 meses.
Montamos nossa empresa e em 2007 terminamos nossa casa e em 2008 quebramos e passamos até por necessidades de alimentos, mas sempre estivemos juntos.
Em outubro de 2008 ela me indicou para prestar serviços na empresa onde trabalhava e começamos a prosperar novamente.
Tínhamos planos para os próximos 10 anos e ela era a única pessoa que sempre soube todos os passos, eu falava que se eu morresse ela iria tocar tudo e fazer o futuro das meninas (a Gabi chegou em 2010).
Mas ontem Nosso Pai disse que já estava bom e a chamou para junto dele.
Eu ficava horas conversando com a minha amiga, na sala, na cama, no café da manhã.
Eu tive anos de verdadeira felicidade, pena que a missão dela teve que terminar.
Ela era minha amiga, eu consegui encontrar o prêmio que todos procuram, eu encontrei a minha alma gêmea.
Ela me ensinou a servir sem propósito, apenas pelo benefício do outro.
Ensinou a ter propósito sem pegar na minha mão, eu não era nem tinha nada e hoje tenho projetos sólidos.
Ela me tratava como um filho e eu queria protege-la como uma joia.
Eu só não tinha a resposta para este caminho que a vida nos levou.
Eu confesso que não sou forte e apesar de discutir algumas vezes eu nunca teria peito pra sair de perto dela.
Mas não tivemos escolha e agora me prendo ao que ela me ensinou nesta vida de exemplos. Eu não acreditava na pureza de sentimentos e na ingenuidade dos detalhes que ela observava, mas tudo isto me empurra a aceitar mais este desafio e eu realmente acredito que um dia vou encontrá-la e dizer "a missão foi cumprida".
Meus amigos, dediquem um minuto e façam uma oração pedindo paz e tranquilidade nesta nova jornada que ela atravessa.
Na tarde passada nossa pequena família feliz dormia juntos depois do almoço e ontem mesmo ela ficou menor, mas temos que continuar a ser felizes e preencher o vazio com os sorrisos dela.
Eu estou feliz porque posso dizer que tenho duas jóias, uma com a cara e outra com seu temperamento.
Eu estou feliz porque amei e fui amado, porquê tentei dar de tudo para ela e sei que ela mesmo sem fazer força ela foi muito melhor que eu.
Que a paz de nosso Divino Deus esteja com você meu grande amor.
Te amo para sempre.?
O crime
Jaqueline foi morta a tiros por volta das 21h de sábado. Ela se preparava para colocar o carro na garagem quando foi rendida por três bandidos. Assustada, a universitária se colocou em frente à filha de 2 anos para proteger a menina. Depois de ser baleada, Jaqueline foi levada para a UPA de Irajá, onde morreu. Ela será enterrada às 11h desta segunda-feira, no Cemitério de Irajá, também na Zona Norte.
A Divisão de Homicídios está encarregada das investigações.