Metade dos brasileiros afirmam nunca confiar nas declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). É o que mostra a pesquisa Datafolha feita na terça (11) e quarta-feira (12).
Os dados revelam ainda que 34% dos entrevistados afirmam acreditar às vezes e apenas 14% dizem que sempre confiam no mandatário; 1% não sabe.
Foram realizadas 2.071 entrevistas de forma presencial em 146 municípios espalhados em todo o Brasil. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
A taxa de confiança plena é a menor desde o início da série histórica, em agosto de 2019, ao passo que a desconfiança total é a maior do período. O comparativo do indicador ao longo do governo reforça o cenário negativo para Bolsonaro, com uma severa corrosão da credibilidade do presidente.
Na pesquisa feita pelo Datafolha em março, a taxa de brasileiros que nunca confiam nas declarações do chefe do Executivo estava em 45% (era de 41% em janeiro). Já a fatia dos que sempre acreditam vem em queda: era de 19% em janeiro e de 18% em março. Os que confiam às vezes caíram de 38% para 35%.
Além da desconfiança sobre as declarações, a pesquisa desta semana mostrou que o governo do presidente é aprovado por apenas 24%, a pior marca da gestão dele até aqui. Segundo o levantamento, 54% das pessoas não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro, que deve tentar a reeleição.
O ex-presidente Lula (PT), seu principal adversário, lidera a corrida para a Presidência. O petista alcança 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro. Em um eventual segundo turno, o ex-presidente levaria ampla vantagem, com uma margem de 55% a 32%.
Entre os cidadãos que declaram intenção de votar em Lula, a fatia dos que nunca confiam nas palavras do atual mandatário chega a 74%.
A tendência de maior apoio masculino ao atual ocupante do Planalto se repete em relação à crença nas declarações. Entre os homens, o percentual dos que sempre confiam nele salta para 17% (fica em 11% entre a população feminina) e o dos que nunca confiam cai para 46% (é de 54% entre as mulheres).
O ceticismo nas afirmações do presidente é maior nas regiões Nordeste e Sudeste (onde, respectivamente, 59% e 51% dos entrevistados afirmam nunca confiar nele), ao passo que é menor nas regiões Centro-Oeste/Norte e no Sul (com taxas, respectivamente, de 44% e 41% que nunca confiam).
As diferenças regionais acompanham os índices de aprovação e rejeição do governo. No recorte racial, as tendências também se mantêm. Entre pessoas pretas, por exemplo, 56% dizem nunca confiar em Bolsonaro e só 8% sempre levam em conta o que o presidente expressa.
Como esperado, o percentual de crença nas falas é mais elevado entre os que declaram a intenção de votar nele na eleição do ano que vem do que entre os apoiadores de Lula.
Embora 46% dos eleitores de Bolsonaro digam sempre crer nele, a maioria (51%) responde que só confia no presidente às vezes, o que indica uma fragilidade mesmo entre cidadãos simpáticos ao atual titular do Planalto.
A taxa dos que só em algumas ocasiões confiam nas declarações de Bolsonaro também é significativa entre os 24% de entrevistados que consideram o governo federal ótimo ou bom. Nesse grupo dos que aprovam a atual gestão, 48% acreditam sempre, 47% às vezes e 5% nunca confiam no presidente.
De acordo com os números do Datafolha, a tendência de baixa na credibilidade de Bolsonaro se acentuou desde dezembro de 2020. O movimento coincide com a disseminação de falas do presidente que carregam mentiras, distorções e desinformação.
Ele, por exemplo, colocou em xeque a eficácia das vacinas contra a Covid-19, brecou negociações de imunizantes, desestimulou o uso de máscara e relativizou a importância da adoção de medidas restritivas para conter o vírus, além de ter provocado aglomerações país afora.
Bolsonaro também mentiu repetidas vezes sobre a hidroxicloroquina, medicamento ineficaz contra a doença. A ampla recomendação dada pelo governo para o uso desse e de outros remédios sem eficácia comprovada pela comunidade científica é um dos focos de investigação da CPI da Covid, no Senado.
Em março, postagens do presidente no Twitter, no Facebook e no Instagram com mensagens e imagens contrárias às recomendações médicas foram removidas pelas redes sociais, sob a justificativa de que espalhavam informações sobre a pandemia que poderiam "causar danos reais às pessoas".
Bolsonaro também vem reiterando os discursos que põem em xeque a segurança das urnas eletrônicas, antecipando uma estratégia para desautorizar o sistema eleitoral brasileiro em 2022 caso seja derrotado na tentativa de reeleição. A Justiça Eleitoral reforçou campanhas em defesa da lisura da tecnologia.