A campanha tucana esquiva-se de mencionar, uma realização do ministro Serra.
Em 1998, sob Fernando Henrique Cardoso, Serra assinou portaria disciplinando o socorro, no SUS, a mulheres vítimas de agressões sexuais.
No item de número seis, a portaria trata do ?atendimento à mulher com gravidez decorrente de estupro?. Anota o texto:
?Esse atendimento deverá ser dado a mulheres que foram estupradas, engravidaram e solicitam a interrupção da gravidez aos serviços públicos de saúde?.
Ou seja, como ministro da Saúde, Serra ditou as normas para a realização de abortos nos hospitais do SUS. A providência foi necessária.
O Código Penal brasileiro autoriza o aborto em dois casos: quando a gravidez decorre de estupro ou quando há risco de morte da gestante.
Na prática, porém, as mulheres tinham dificuldade para fazer valer o seu direito.
Apenas oito cidades dispunham de serviço hospitalar público voltado à interrupção da gravidez nos casos previstos em lei. Daí a necessidade da portaria.
Serra deveria orgulhar-se do ato que editou. Mas a conveniência eleitoral o inibe de propagandeá-lo.
Na pele de candidato, Serra prefere apresentar-se como alguém "que sempre condenou o aborto e defendeu a vida".
"Eu quero ser um presidente com postura, equilíbrio e que defenda os valores da família brasileira?, disse, no reinício da propaganda de TV, nesta sexta (8).
Decidido a fustigar a rival Dilma Rousseff, associada à defesa da legalização do aborto, Serra vincula-se mais ao obscurantismo religioso do que ao passado de ministro.
Em 1998, a portaria de Serra gerou uma enorme grita de católicos e evangélicos. O Serra de então deu de ombros.
Severino "Mensalinho" Cavalcanti (PP-PE), à época deputado federal, tentou barrar a portaria de Serra na Câmara.
Enfrentou a resistência da bancada feminina, liderada pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), hoje fervorosa aliada de Dilma.