O principal argumento do governo ao negar o encontro entre a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, é o fato de a reunião não constar na agenda da ministra.
Segundo Lina, na reunião, Dilma teria pedido para "agilizar" a fiscalização das empresas do filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O G1 apurou junto às assessorias de 22 ministérios, Palácio do Planalto, Casa Civil, Receita Federal e Banco Central. Em alguns deles, a agenda nem mesmo é publicada no site ou enviada a jornalistas por e-mail. De acordo com assessores, o cronograma dos ministros muda a todo o momento e vários eventos são cancelados ou incluídos.
Na Receita Federal, a assessoria afirmou que não existe uma agenda interna oficial. Disse ainda que nem todas as reuniões entre o chefe do fisco e pessoas de fora do órgao são registradas, apenas eventos de "maior relevância" pública constam em agenda. "Não existe esse nível de detalhamento", disse o assessor, por telefone. A assessoria da Casa Civil não respondeu às perguntas enviadas por e-mail pelo G1. Sugeriu apenas que a reportagem procurasse a consultoria Macropolítica. De acordo com a assessoria da ministra Dilma Rousseff, essa empresa realizou uma análise das agendas dos ministros do governo e concluiu que a da Casa Civil, ao longo de 2008, é a "mais completa e transparente dentre as analisadas".
Sobre a agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a assessoria disse que é publicada no dia anterior por volta de 20h. Cancelamentos e inclusão de novos eventos são comunicados aos jornalistas que cobrem Planalto e às vezes vão para o site. Encontros com autoridades constam na agenda oficial, reuniões “particulares” ficam na agenda privada do presidente.
No Banco Central, a assessoria afirmou que às vezes nem fica sabendo de certos encontros. “Algumas reuniões entram [na agenda] e outras não. Não existe uma regra. Às vezes até a assessoria demora a saber que houve reunião ou sabe depois de acontecer”, disse. O mesmo acontece no Ministério da Justiça, onde, segundo a assessoria, “reuniões consideradas rotineiras, visitas de parlamentares ou despachos internos nem sempre constam na agenda oficial”. Alterações As assessorias dos ministérios de Ciência e Tecnologia e das Comunicações explicam que pode acontecer de reuniões não serem incluídas na agenda, principalmente as de última hora.
No Ministério das Cidades não há uma agenda fixa, porque, segundo assessores, é comum eventos serem cancelados ou incluídos ao longo do dia. No Ministério do Planejamento, são freqüentes as alterações de cronograma ao longo do dia, principalmente em função de chamados do Planalto.
De acordo com a assessoria, “reuniões para tratar de assuntos burocráticos ou de governo não são necessariamente incluídas na agenda do ministro”. Os ministérios da Saúde, Educação e Meio Ambiente também afirmaram que encontros fechadas ou referentes apenas a assuntos internos do ministério não são detalhadas na agenda. A assessoria do Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior disse que a agenda do ministro muda com muita frequênca, mas que normalmente todas as visitas são informadas. Quando há muitos eventos no mesmo dia, no entanto, são colocados na agenda os "mais importantes."
Alguns ministérios, porém, garantiram que todas as visitas externas são registradas ou comunicadas por notas à imprensa. É o caso, por exemplo, de Minas e Energia, Fazenda, Defesa, Cultura e Relações Exteriores. Questionado se no Ministério do Trabalho todas as visitas externas são incluídas na agenda oficial, a assessoria não quis responder e se limitou a repetir várias vezes que “a agenda oficial do ministro é a que está no site”.
Provas
Na segunda-feira (17), o presidente Lula saiu em defesa da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao falar do suposto encontro que a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira afirma ter realizado com a ministra. Para Lula, Lina precisa apresentar a agenda onde consta sua reunião com Dilma. “Qual a razão que essa secretária tinha para dizer que encontrou com a Dilma e não mostrar a agenda? E a Dilma já disse que não tem agenda com ela. Ou seja, se as duas se encontraram é só ver a agenda.
Não precisa fazer um cenário de crise entre duas pessoas”, disse. Dilma, na semana passada, usou o mesmo argumento para negar o encontro com Lina. “A gente não afirma, a gente prova, então, as agendas são oficiais. (...) Havia uma agenda que tava na mala. Estranho que as agendas, elas estão geralmente nos meios normais, eletrônicos. E agora não tem agenda nenhuma. Não tá na mala. A agenda, ela não existiu, ela é sigilosa.”