A criação do Partido Social Democrático (PSD), do prefeito paulistano Gilberto Kassab, não foi a única novidade no quadro partidário deste ano pré-eleitoral. Mas sua formalização, em tempo recorde, destoa da realidade de outros dois novos partidos.
Uma das explicações para a rapidez da criação do PSD é a articulação política da nova legenda, que já conta com pelo menos dois senadores, 52 deputados federais - a terceira bancada da Câmara - e um assento no governo federal com a adesão do chefe do Conselho Público Olímpico, Henrique Meirelles.
A 29ª legenda brasileira, o Partido Pátria Livre (PPL), obteve registro na última terça-feira (4) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas levou quase dois anos para coletar as mais de 520 mil assinaturas admitidas pela Corte.
"Foram, no total, cerca de 1,25 milhão de assinaturas coletadas em todo o Brasil desde julho de 2009 a junho de 2011", disse o presidente do PPL-SP e secretário nacional de organização e comunicação, Miguel Manso.
O tempo contrasta com o poder de fogo do PSD, lançado em março deste ano e que, desde então, em pouco mais de seis meses, conseguiu levantar 538.263 assinaturas, das quais 514,9 mil consideradas válidas, em meio a acusações de fraudes como troca de assinaturas por cestas básicas, duplicidade de assinaturas e a inclusão de eleitores mortos na lista de apoiadores. A defesa do PSD sempre negou as irregularidades.
Enquanto o PSD já conta com grande representação no Congresso, o PPL diz avançar em cidades pequenas e médias, com apoio nos bastidores dos governos e em empresas estatais.
Com representação em 23 estados, a legenda destaca a filiação de José Luís Lago, ex-candidato a deputado federal pelo PPS e irmão de Jackson Lago, ex-governador maranhense, morto em abril deste ano.
Esgotado na última sexta (7) o prazo para as filiações dos interessados em concorrer nas eleições de 2012, o próximo passo, segundo Manso, é crescer para as eleições de 2014 com filiações, até o próximo mês, de deputados e prefeitos que não pretendem concorrer no próximo ano.
Quase lá
Na quarta-feira (5), o TSE abriu prazo de dez dias para que o Partido Ecológico Nacional (PEN) apresente as assinaturas necessárias à comprovação do apoio nacional mínimo de eleitores para a oficialização da legenda. Com 373.159 assinaturas aceitas, faltam 118.484 para o PEN ser admitido como o 30º partido brasileiro - são necessárias aproximadamente 500 mil assinaturas em todo o país, cerca de 0,5% do total de eleitores que participaram das eleições para deputado federal em 2010.
"Não é fácil ter mais de meio milhão de assinaturas certificadas. São mais de quatro anos trabalhando sem parar com foco principalmente nas assinaturas", lamentou o presidente nacional do partido, Adilson Barroso.
Para ele, a rejeição de parte das assinaturas foi um "equívoco". Ele atribuiu o impasse a uma suposta falta de tempo da ministra do TSE e relatora do pedido, Nancy Andrighi, em conferir as assinaturas de apoio com a devida atenção.
Foram descartadas, segundo o tribunal, 207.248 assinaturas, em relação às quais o TSE verificou irregularidades como duplicidade, ausência da autenticação de assinaturas ou a apresentação de meros requerimentos de apoio.
Governo ou oposição
Na ocasião do lançamento do PSD, no início do ano, Kassab chegou a afirmar que o partido não seria "nem de esquerda nem de direita" e que poderá votar no Congresso a favor de projetos do governo que sejam "de interesse do país".
A tônica dos demais partidos é a mesma: não querem ser chamados de governistas - no máximo de siglas identificadas ou mesmo "alinhadas" com a gestão da presidente Dilma Rousseff.
Se vamos admitir que nos chamem de governistas? Nunca"
Miguel Manso, presidente do PPL
No PPL, "governismo" é "palavrão", diz Manso, ainda que o partido tenha integrado informalmente a campanha de Dilma e do ex-candidato ao governo de São Paulo Aloizio Mercadante, hoje ministro.
"Governismo é uma coisa chata, é aderir apenas porque é governo. Se vamos admitir que nos chamem de governistas? Nunca."
Na cúpula do PPL, composta por dissidentes do PMDB egressos do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), grupo que participou da luta armada na época da ditadura militar, há críticas principalmente à política econômica de Dilma.
A palavra de ordem, segundo Manso, é "terminar o processo de independência e soberania da nação".
"Não seria correto que a nossa moeda, o valor dela e se vai haver inflação, que isso seja definido também por quem produz e trabalha?", indagou Manso ao defender a substituição do Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) pelo Conselho Monetário Nacional (vinculado ao Ministério da Fazenda) como instância definidora da política monetária do país.
"Quando a gente fala que o partido é oposição do governo, é o que o povo quer ouvir. Mas, se é PT ou PSDB e está governando bem, nós vamos apoiar. Não estamos nascendo para complicar", disse Barroso sobre se o PEN nascerá apoiando o governo.
O mote principal da legenda, de acordo com ele, é o desenvolvimento sustentável, mas com um viés que classificou como "mais familiar" que o do Partido Verde (PV), de espectro ideológico parecido. "Não defendemos a liberação das drogas, do aborto e de outras coisas ruins", afirmou.
A pequenez do PEN, no entanto, não é motivo para que a sigla desista de grandes planos. A prioridade da legenda, além de encorpar e pôr em prática suas bandeiras, é conseguir a adesão de 10 a 14 deputados federais e convidar a ex-senadora e ex-presidenciável Marina Silva para integrar sua cúpula.
"Acredito que o PEN deve ficar um partido médio. Assim que o partido ficar pronto, vou sentar com ela [Marina] e oferecer a ela a presidência nacional do partido. Sabemos que ela está precisando disso e uma bancada dessas não é de se jogar fora", disse.