As condições especiais oferecidas ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares provocaram mais uma demissão no presídio onde ele cumpre a pena de prisão em regime semiaberto. Desta vez, a principal autoridade do Centro de Progressão Penitenciária (CPP), o diretor Afonso Emílio Alvares Dourado, formalizou o pedido de demissão. O documento já foi entregue à Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe), que controla o sistema penal no governo petista do Distrito Federal. Na terça-feira, antes mesmo de saber da nova demissão, o Ministério Público do DF enviou ofício à Vara de Execução Penal recomendando que os réus do mensalão sejam transferidos para um presídio federal, caso o juiz avalie que o governo local não tem condições de coibir privilégios a esses condenados.
O MP cita duas reportagens, no último fim de semana, e solicita que a VEP cobre providências do governo sobre regalias a mensaleiros. Caso não seja possível resolver a situação, o caminho seria, segundo promotores, pedir que o STF transfira José Dirceu, Delúbio Soares e outros réus para presídio federal.
A demissão do diretor Afonso Dourado é a segunda desde a transferência de Delúbio para o CPP, há pouco mais de um mês. O GLOBO revelou no último sábado, 22, que o vice-diretor da unidade, Emerson Antonio Bernardes, foi demitido do cargo depois de coibir regalias ao ex-tesoureiro, como ordenar a retirada da barba. O MP vai abrir um procedimento para investigar a concessão de regalias no CPP e a continuidade de visitas especiais por parte de parlamentares na Papuda.
Alergia da navalha
Fontes da Secretaria de Segurança Pública (SSP) confirmaram o recebimento do pedido de demissão de Dourado, o que só não foi efetivado até agora porque a gestão do governador Agnelo Queiroz (PT) ainda escolhe quem serão os novos diretor e vice-diretor do presídio. O governo estuda nomes com vinculação partidária. Os dois demissionários são agentes penitenciários vinculados à Polícia Civil.
Tanto o diretor quanto o vice-diretor do CPP manifestaram discordância com o tratamento especial dado ao ex-tesoureiro do PT. Basicamente três fatos irritaram petistas e motivaram as demissões: a proibição da barba; a vedação do estacionamento do carro da CUT no pátio interno, no retorno do trabalho; e o registro de uma ocorrência com relatos sobre o encontro entre Delúbio e o presidente do Sindicato dos Agentes de Atividades Penitenciárias, Leandro Allan Vieira.
Delúbio tenta, agora, retomar o direito de usar barba durante a execução da pena. Ele alegou que não pode se barbear em razão de uma alergia. Se o réu apresentar um atestado médico comprovando a reação alérgica, a administração penitenciária vai permitir que ele volte a adotar o antigo visual. Gestores do sistema citam casos em que detentos obtêm na Justiça o direito a manter a barba e o bigode. São exceções nos presídios.