JÚLIA BARBON
NITERÓI, RJ (FOLHAPRESS) - O deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) se limitou a poucas palavras e não mencionou nominalmente o STF (Supremo Tribunal Federal) durante seu discurso em manifestação neste 1º de Maio que fechou uma das pistas da orla de Icaraí, em Niterói (região metropolitana do Rio de Janeiro).
O político apenas afirmou que "ficou muito tempo calado" e "aqui não tem teoria da conspiração, é muito real". Disse que "estava muito próximo de acontecer. Se não fosse o presidente Bolsonaro, essa cor amarela e verde não estaria acontecendo, estaria vermelha".
Ele chegou por volta das 10h15, quando a manifestação ocupava cerca de um quarteirão, aos gritos de "Daniel Silveira", "Eô, eô, Daniel para senador".
Um grupo que variava entre 2.000 e 3.000 pessoas — quase todas brancas e acima dos 50 anos de idade —, clamava pela eleição do parlamentar bolsonarista.
O deputado acrescentou ainda: "Falei por várias vezes no privado com Bolsonaro e garanto para vocês, não tem nada que preocupa mais o presidente do que livrar o Brasil do socialismo que vem avançando".
Ao lado dos deputados, no topo do carro de som, um homem branco fantasiado de viking, idêntico a Jacob Chansley — o extremista que invadiu o Capitólio em 6 de janeiro e está preso —, segurava uma placa de rua com o nome de Daniel Silveira, em alusão à placa Marielle Franco quebrada pelo próprio deputado com Rodrigo Amorim (PTB). "Esse aqui é branco mesmo, não é como uns aí que fingem ser de verdade", proferiu o locutor sobre Julio Monteiro, o viking brasileiro.
A manifestação, iniciada às 9h em frente à reitoria da UFF (Universidade Federal Fluminense), foi divulgada como "ato pela liberdade e em apoio ao presidente" nas redes sociais de políticos próximos a Silveira, que está com suas redes sociais bloqueadas na internet por decisão judicial há mais de um ano.
O deputado bolsonarista foi condenado no último dia 20 pelo STF a oito anos e nove meses de prisão, em regime inicialmente fechado, por ataques feitos a integrantes da corte.
Os magistrados também cassaram seu mandato, suspenderam seus direitos políticos e determinaram multa de cerca de R$ 192 mil.
No dia seguinte, porém, o presidente Jair Bolsonaro (PL) concedeu indulto ao deputado para anular a pena. O perdão, neste formato individual, é considerado raro, o que deixa os efeitos jurídicos do decreto incertos e gera divergências nas análises de especialistas.
Antes de subir no caminhão, Silveira foi anunciado no microfone como "o homem que vai explodir o STF, o homem-bomba". O veículo vinha coberto pela faixa "no dia do trabalhador, lutamos pela liberdade!", próximo a outro cartaz com os dizeres "Supremo é o povo".
Nas caixas de som, uma paródia do funk "Baile de Favela" em apoio ao presidente cantou frases sexistas: "As minas de direita são as top mais belas, enquanto as de esquerda têm mais pelo que cadela", "para as feministas ração na tigela" e "Maria do Rosário [deputada federal pelo PT] não sabe lavar panela".
Na concentração também houve críticas ao uso da bandeira do arco-íris pela população LGBTQIA+ e a uma suposta tentativa da esquerda de transformar as crianças em gays. "Menino veste azul e menina veste rosa", disse um dos discursantes ao microfone.
A um público com poucos jovens, majoritariamente mais velho, o ato foi chamado também de "a festa da democracia, do verdadeiro trabalhador". Diferentemente da última manifestação de 7 de setembro, havia poucas referências às Forças Armadas.
Estavam presentes também o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), seu irmão Renan Jordy, economista e pré-candidato a deputado estadual pelo PL, e o deputado estadual Coronel Salema (PL), que distribuía flyers por sua recandidatura.