SÃO PAULO - Apenas 8,9% das vagas da Câmara e 13% das cadeiras do Senado são preenchidas por mulheres. O número está abaixo da média internacional levantada pela ONU Mulheres em parceria com a União Interparlamentar, de 23% de participação feminina nos Legislativos. Para especialistas ouvidas pelo Estado, só uma reforma política seria capaz de resolver o problema.
A Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) do governo federal reconhece a dificuldade da participação feminina e tenta promover ações para mudar esse quadro. O órgão ajudou na elaboração da minirreforma eleitoral em 2009 - lei que previu cotas femininas nas propagandas - e promove o Fórum Nacional de Instâncias de Mulheres e Partidos Políticos, que se reúne quatro vezes no ano.
A iniciativa, contudo, só consegue reunir mulheres de 16 partidos, metade dos 32 existentes no País. "O que fazemos é fortalecer as mulheres. Realizamos um processo de discussão no fórum buscando fortalecer a atuação partidária e estabelecer o que podemos trabalhar em conjunto", afirmou a secretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas da SPM, Vera Soares.
A secretaria lança editais anuais para promover debates e ações que, dentre outros temas, abordem a participação política feminina. Dos R$ 16 milhões disponibilizados pelo órgão em 2012, cerca de 10% foram destinados exclusivamente para ações envolvendo a participação das mulheres nos partidos.
Para a professora de Ciência Política e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem) da UFMG, Marlise Matos, a dificuldade de se eleger mulheres começa já na própria família. "Exceto nas famílias que já têm capital político, a mulher comum, aquela que está filiada ao partido há mais de 20 anos e quer sair candidata, ela não tem apoio. A família questiona quem vai cuidar das crianças, da casa, aonde ela quer chegar com aquilo", avaliou Marlise.
Além disso, os partidos, em geral construídos e estruturados por homens, não têm preocupação em dar muito espaço às mulheres. "As candidaturas são pouco atrativas para o grande financiamento de campanha e a própria agenda das mulheres não interessa aos partidos", disse a socióloga do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), Jolúzia Batista.
Uma das alternativas apontadas pelas especialistas seria a eleição no Legislativo por meio de lista fechada alternada por sexo. Com isso, os partidos seriam obrigados a preencher a chapa alternando um homem e uma mulher. Hoje, a eleição para deputados e vereadores é feita por lista aberta - os mais votados ocupam as vagas conquistadas pelos partidos.