O deputado Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência da República, ironizou o teor do relatório da CIA, tornado público nesta quinta-feira (10), que diz que o general Ernesto Geisel mandou matar seus opositores durante o período da Ditadura Militar no Brasil. A entrevista foi dada ao quadro Café com Política.
"Quem nunca deu um tapa no bumbum do filho e, depois, se arrependeu", iniciou. Para, depois, reforçar: "O que pode ter acontecido com este agente da CIA? Quantas vezes você falou num canto ali que tem que 'matar mesmo', 'tem que bater', 'tem que dar canelada'. Ele deve ter ouvido uma conversa como esta, fez um relatório e mandou. Agora, cadê os 104 mortos?", comentou.
Bolsonaro estranhou o momento em que o relatório foi divulgado. "Cortaram na carne. Um capitão está para chegar lá. É o momento. Foi o memorando de um agente, que a imprensa não divulgou. É um historiador que diz que leu isso e não mostrou", destacou.
Depois, o pré-candidato citou trecho de editorial do jornal "O Globo" de 1984, assinado por Roberto Marinho, para criticar a imprensa.
"O editorial dizia 'participamos da Revolução de 1964 identificados com anseios nacionais de preservação das instituições democráticas ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordens social e corrupção'. Eu estou respondendo a imprensa que nos ataca com a própria imprensa do final do governo Figueiredo", comentou.
Clima da época
Bolsonaro disse que o clima à época era de guerra entre militares e opositores e cita a morte do tenente Alberto Mendes Junior.
"Inclusive, o jornal "O Globo" de hoje e eles falam que seis agentes da VPR, Vanguarda Popular Revolucionária, teriam sido executados em Pernambuco. Porque O Globo não falou que a mesma VPR, em 1970, que tinha como líderes Carlos Lamarca e Dilma Rousseff, executaram em cativeiro nas matas do Vale do Ribeira o tenente Alberto Mendes Junior, de 23 anos de idade, da força pública. Era o espírito daquela época. Quando pegava alguém, arrebentava. Você vai no minimanual de guerrilha do Marighella, que é ídolo deles lá", completou.
O relatório
Os assassinatos de oposicionistas durante o regime militar era de conhecimento e foi autorizado pelo general Ernesto Geisel, presidente entre 1974 e 1979, revelou um memorando da CIA encaminhado, em 1974, ao então secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger.
O memorando, datado do dia 11 de abril daquele ano --pouco menos de um mês depois da posse de Geisel como 4º presidente do regime militar-- relata uma reunião entre o general e os generais Milton Tavares de Souza e Confúcio de Paula Avelino, o chefe que saia e o que entrava no comando da Centro de Informações do Exército (CIE), além do general João Figueiredo, então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI).
O memorando revela que o general foi informado do assassinato de oposicionistas e, mesmo tendo relutado, concorda que a política continue, mas determina que fique restrita apenas a subversivos perigosos e exige que cada execução seja autorizada por Figueiredo pessoalmente.