A Polícia Federal (PF) identificou o assessor mais próximo de Arthur Lira (PP-AL) ao seguir o rastro do dinheiro movimentado pela empresa Megalic. A empresa é suspeita de desviar verbas de contratos de kits de robótica assinados durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). A Polícia Federal investiga possíveis fraudes que podem ter causado prejuízo de R$ 8,1 milhões aos cofres públicos com os kits de robótica.
A investigação começou com base em uma reportagem da Folha de S.Paulo, publicada em abril do ano passado, que levantou informações sobre um casal de Brasília que estaria envolvido nos desvios por meio de empresas de fachada. Essas empresas atuavam como destinatárias dos valores repassados pela Megalic. Nesta quinta-feira (1º), a PF realizou uma operação que resultou na prisão do casal de Brasília e também em buscas na residência de Luciano Cavalcante, assessor de Lira.
A PF passou a monitorar o casal de Brasília com base nas transações financeiras da Megalic e descobriu uma intensa movimentação de saques em dinheiro em agências bancárias, seguidos de entregas suspeitas. Os investigadores suspeitam que esses valores possam ter como destino agentes públicos. Entre os meses de novembro de 2022 e janeiro de 2023, a polícia acompanhou e filmou pelo menos dez idas do casal a agências bancárias, bem como entregas de dinheiro em Brasília, cidades vizinhas e em Maceió.
Em uma dessas operações de monitoramento secreto em janeiro de 2023, a PF flagrou o veículo utilizado pelo casal em deslocamentos para agências bancárias e possíveis locais de entrega de dinheiro. Nesse episódio específico, a polícia mapeou saques no valor de R$ 115 mil realizados pelo casal, além de uma suposta entrega de valores em um hotel. Ao investigar o veículo, a PF descobriu que o carro estava registrado em nome de outra pessoa, mas era usado e ficava na residência de Luciano Cavalcante e sua esposa, Glaucia.
Durante o episódio de janeiro flagrado pela PF, o casal de operadores de Brasília foi visto indo até a casa do assessor de Lira, com Glaucia dirigindo o veículo durante os deslocamentos em Maceió. O advogado de Luciano Cavalcante, André Callegari, afirmou que está analisando os fatos e ressaltou que as imagens mencionadas não comprovam qualquer atividade ilícita por parte do investigado. Callegari também enfatizou que Cavalcante não possui qualquer ligação com a Megalic.
A empresa Megalic, que fornecia os kits de robótica, operava em uma pequena casa em Maceió, com capital social de R$ 1 milhão. Embora tenha fechado contratos milionários, no valor de pelo menos R$ 24 milhões, a empresa era apenas uma intermediária e não produzia os kits de robótica. A Megalic era registrada em nome de Roberta Lins Costa Melo e Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda (PSD). A proximidade do vereador e seu pai com Arthur Lira é conhecida publicamente. Além da empresa e de Edmundo Catunda, outros aliados do Presidente da Câmara foram altos da PF.
O TCU já havia apontado irregularidades nos processos de compras de kits de robótica na gestão do então presidente Bolsonaro e resolveu suspender os contratos. A equipe técnica do TCU identificou 253 que somama o valor total de R$ 189 milhões para a compra de kits de robótica. Nesta semana, Lira afirmou em entrevista a uma rede de televisão que não tem "absolutamente nada a ver com o que está acontecendo".