O Ministério Público e a Polícia Civil informaram nesta segunda-feira (17) que receberam 506 denúncias de mulheres que dizem ter sido abusadas por João de Deus em Abadiânia. O médium, que sempre negou as acusações, foi preso neste domingo (16). Além destes crimes, os órgãos também apuram se houve conivência de outras pessoas e denúncias de lavagem de dinheiro.
-Ministério Público recebeu 506 denúncias
-Das mulheres que denunciaram caso ao MP, 30 já foram ouvidas
-Polícia Civil colheu depoimentos de outras 15 mulheres
-Há relatos de supostas vítimas de seis países e vários estados brasileiros
-Médium é investigado por estupro, estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude
-Não há pedido para suspensão do funcionamento da Casa Dom Inácio de Loyola, onde médium atende
O delegado-geral da Polícia Civil, André Fernandes, disse acreditar que o número vai crescer a partir da parceria com o MP. Neste domingo (16), porém, ele já havia alertado que "muitos casos já podem ter prescrito."
"É muito dinâmico. O MP vai contribuir com várias informações que foram colhidas por eles e serão enviadas para a polícia. Esses dados precisarão de uma nova análise por parte da polícia investigativa", afirmou.
A Polícia Civil declarou que o líder religioso será ouvido "quantas vezes for necessário" durante as apurações. Delegados e promotores que compõem as forças-tarefas que investigam os crimes se reuniram no período da tarde na Secretaria de Segurança Pública para compartilhar dados.
Suspeita de lavagem de dinheiro
O promotor Luciano Meirelles disse que vai investigar se João de Deus teria lavado dinheiro, conforme relatos recebidos pelos investigadores. Eles não deu detalhes a respeito, mas afirmou que essa análise só deve ser feita após a apuração dos crimes de cunho sexual.
"Há notícias de lavagem de dinheiro, que também, como os crimes sexuais, deve ser investigada. Mas é bom frisar que o momento é de investigar os crimes contra a dignidade sexual. Num segundo momento, os crimes que rodeiam a figura do acusado serão investigados", explica.
Em nota, o advogado dele, Alberto Toron, negou as acusações.
"Não se lava dinheiro limpo, dele próprio, que estava no banco. Baixar aplicações não é lavar dinheiro. Depois, soube agora que apenas uma aplicação foi baixada e não todo o montante alardeado", declarou.
O advogado também comentou sobre a investigação de suposta conivência de outras pessoas. "Por fim, não vi nas narrativas, mesmo as divulgadas na mídia, qualquer referência à participação de terceiros. Parece estar havendo um processo intimidativo indevido."
Denúncias
João de Deus teve a prisão decretada na sexta (14) a pedido da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO), que investigam os relatos de abuso sexual durante atendimento na Casa Dom Inácio de Loyola. No domingo, ele se entregou à polícia em uma estrada de terra em Abadiânia.
O médium prestou depoimento na noite de domingo, durante três horas. João de Deus afirmou à Polícia Civil que, antes de as denúncias de abuso sexual virem à tona, foi ameaçado por um homem, por meio de uma ligação de celular. Além disso, negou os crimes e que tenha movimentado R$ 35 milhões nos últimos dias.
Segundo o advogado Alberto Toron, o pedido de habeas corpus foi protocolado nesta segunda-feira (17). Em entrevista no domingo, ele citou como alternativas possíveis uma prisão domiciliar e o uso de tornozeleira eletrônica. Além disso, negou que tenha havido intenção de fuga.
Nota da defesa de João de Deus:
1. O Ministerio Público vem falando em ocultação de valores e lavagem de dinheiro em razão do suposto “saque” de RS 35 milhões do Banco por João de Deus. Em primeiro lugar, o relatório do COAF descreve o resgate de aplicações financeiras, não saque. Como sabem os promotores de justiça, não se lava dinheiro limpo, não se lava dinheiro que é seu e estava no banco .
2. Sequer está claro se houve realmente movimentação nesse valor. Pelo que a defesa teve conhecimento, apenas uma aplicação foi resgatada e em valores menores .
3. Até agora, tivemos acesso apenas a algumas poucas declarações, todas fornecidas pela Polícia Civil de Goiânia e, nelas, não há qualquer referência à participação de terceiros nos fatos narrados. Parece estar havendo um processo intimidativo indevido, talvez para ensejar novas denúncias e declarações.
4. Por fim, importante esclarecer que estivemos diversas vezes na sede do Ministério Público em Goiânia e, até agora, tivemos acesso a apenas um procedimento invstigativo o qual, para surpresa da defesa, tem apenas cópia das matérias do Fantástico, sem cópia de nenhum dos inúmeros depoimentos que estão sendo divulgados pela imprensa.
A complexidade das suspeitas exige serenidade e tempo para que seja realizado um julgamento justo, imparcial e válido.