GABRIELA BILÓ E RICARDO DELLA COLETTA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga disse numa conversa privada flagrada do celular do ex-ministro Ciro Nogueira (Casa Civil), que "a ação de um grupo de radicais" prejudica o legado do governo Jair Bolsonaro (PL) e que o comportamento dos vândalos que invadiram as sedes dos Três Poderes beneficia politicamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A avaliação foi feita por Queiroga num grupo de WhatsApp formado por ex-ministros do governo Bolsonaro.
"Não houve a percepção do que foi feito no país. Ter esses resultados econômicos durante um colapso no país decorrente da pandemia é um milagre. Agora, tudo o que foi feito vai por água abaixo pela ação de um grupo de radicais. O governo lulopetista havia cometido vários erros na primeira semana, mas a ação desses vândalos acaba por ajudar o governo", escreveu Queiroga.
Logo em seguida, o ex-ministro da Economia Paulo Guedes indica concordar com a avaliação do ex-colega de Esplanada ao responder "sim".
A Folha de S.Paulo registrou a conversa do celular do ex-ministro Ciro Nogueira (Casa Civil).Procurados, Queiroga e Ciro Nogueira não responderam contatos feitos pela reportagem.
Ciro participou na manhã de terça-feira (10) da sessão do Senado convocada para votar o decreto de Lula que estabeleceu intervenção na segurança pública do Distrito Federal.
O Senado aprovou a intervenção federal na Segurança do DF, medida decretada por Lula ainda no domingo (8), na esteira da invasão dos prédios dos Três Poderes por golpistas.
O decreto foi aprovado de forma simbólica, sem a contagem de votos, mas oito senadores bolsonaristas se posicionaram contra, incluindo o filho mais velho do ex-mandatário, Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Os senadores Carlos Portinho (PL-RJ) -ex-líder do governo Bolsonaro-, Luiz Carlos Heinze (PP-RS), Carlos Viana (PL-MG), Eduardo Girão (Podemos-CE), Plínio Valério (PSDB-AM), Styvenson Valentim (Podemos-RN) e Zequinha Marinho (PL-PA) também foram contra.
Ao longo do mandato e, principalmente, da campanha presidencial, uma ala de auxiliares de Bolsonaro sempre opinou que atos do grupo mais radical de apoiadores do então presidente traziam prejuízos ao governo.
Não só por dificultar que o então presidente emplacasse pautas positivas, mas por afastar o apoio de eleitores moderados que rechaçavam a radicalização do discurso.
Os ataques golpistas contra os prédios do Congresso, do Planalto e do STF (Supremo Tribunal Federal) tiveram como resultado demonstrações de união entre os chefes dos Três Poderes. Além de realizarem reuniões para mostrar unidade na resposta contra a depredação, os presidentes de Poderes divulgaram uma nota conjunta na segunda repudiando os atos golpistas e de vandalismo.
"Os Poderes da República, defensores da democracia e da carta Constitucional de 1988, rejeitam os atos terroristas, de vandalismo, criminosos e golpistas que aconteceram na tarde de ontem em Brasília", diz o comunicado.
Outra consequência dos ataques golpistas foi o fortalecimento da posição institucional do ministro do STF Alexandre de Moraes, considerado inimigo por Bolsonaro. O magistrado tem assinado as principais decisões em reação aos atos de violência, como a determinação de desmonte dos acampamentos golpistas e as ordens de prisão contra o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-comandante da Polícia Militar do DF Fabio Augusto Vieira.