Em mais uma demonstração de divergência, o comando do PSDB se recusou a referendar uma carta divulgada ontem pelo presidente do conselho político do partido, José Serra, com duras críticas ao governo Dilma Rousseff.
A ideia era que o documento fosse o primeiro fruto do colegiado criado pelos tucanos para acomodá-lo no comando partidário. Serra tentou viabilizar a divulgação pela sigla. Sem resposta, publicou -atribuindo-o ao conselho político em seu site. "Tentei construir um consenso sobre a matéria, mas não tive tempo hábil ", argumentou o presidente da legenda, deputado Sérgio Guerra (PSDB-PE).
Guerra afirmou ainda que o PSDB não pode assumir a autoria da carta sem aprovação da Executiva Nacional. "O partido não tem uma manifestação sobre isso", disse.
Em tom acima do adotado por grão-tucanos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o documento diz que o governo Dilma é marcado por "incompetência e autoritarismo". "E o PSDB não renunciará à denúncia desses atos", diz a carta, que foi intitulada "A nossa missão".
Para tucanos, o teor da carta contraria a estratégia de restaurar a imagem de FHC e reduzir o índice de rejeição à sigla, especialmente pela divulgação ocorrer depois de a presidente Dilma reconhecer a contribuição do ex-presidente para o país, em felicitação pelos 80 anos.
No último parágrafo, há uma autocrítica à sigla. Ele diz que o PSDB tem "um só possível inimigo: a desunião interna". A Folha apurou que o trecho foi amenizado. Na versão original, a expressão "possível" não existia.
Logo após, o texto aponta um dos motivos da desunião, em referência ao principal ponto de tensão entre Serra e Aécio Neves: a "antecipação das decisões sobre alianças e candidaturas em 2014".