No dia em que a Câmara decidiu blindar Michel Temer e impedir as investigações da acusação de corrupção passiva imputada ao presidente, um parlamentar se sobressaiu pela proximidade e devoção ao chefe do Executivo e pelo comportamento em plenário – bem próximo da galhofa. Wladimir Costa (SD-PA), o deputado que tatuou "Temer" no ombro, concentrou os holofotes durante toda a quarta-feira: portava dois "pixulecos", o boneco inflável de Lula presidiário, e batia um contra o outro durante os discursos da oposição; sugeriu aos opositores que lavassem suas bocas com soda cáustica; gerou empurra-empurra no plenário, antes e durante a votação; e saiu direto do Congresso para o Palácio do Planalto para a comemoração da vitória, ocasião em que entrevistou Temer, que o chama de "Wladi".
Os atos pouco protocolares não pararam por aí. O deputado, dentro do plenário e durante a votação, trocou mensagens com uma mulher em que pedia para ela "mostrar a bunda", com a justificativa de que "não são suas profissões que a destacam como mulher".
A troca de mensagens foi registrada pelo fotógrafo Lula Marques e publicada nas redes sociais do fotógrafo. Às 22 horas desta quarta-feira, quando Wladimir já estava na comemoração da vitória no Palácio do Planaltoele foi questionado sobre as mensagens:
— Aquilo é 'fake' (falso). Não é minha mão. Minha mão é mais delicada.
Na manhã desta quinta-feira, a reportagem voltou a procurar o parlamentar, que confirmou ser o autor das mensagens. A mensagem principal tem o seguinte teor: "Mostra a tua bunda mostra afinal não são suas profissões que a destacam como mulher e sua bunda. Vai lá põe aí garota. (sic)" Depois, Wladimir cita jornalistas que são "respeitadas e até desejadas" por suas "capacidades técnicas e não por um par de bunda".
Segundo o deputado, não havia nada de "sentimental" ou "erótico" nas mensagens, enviadas após ter proferido o voto em plenário para blindar Temer, ainda conforme Wladimir:
— Uma pessoa que conheço insistia para eu mostrar a tatuagem, na Câmara, no Senado. Isso é loucura, eu não posso mostrar. Aí citei Fátima Bernardes, Sônia Abrão, que não precisam mostrar a bunda. No contexto, não há nada sentimental, erótico. Foi uma resposta à questão da tatuagem. Não acho que as mensagens foram impróprias.
Pouco depois da troca de mensagens, Wladimir deixou o Congresso e foi ao Planalto. Ele subiu à sala do presidente e entrevistou o peemedebista. Temer disse que a Câmara fez "justiça".
— Estamos aqui no Palácio do Planalto. (Estão aqui) deputados, assessores, ministros, o ministro (da Defesa, Raul) Jungmann, ministro (da Fazenda, Henrique) Meirelles, presidente Temer, advogado (Antonio) Mariz (de Oliveira, defensor de Temer no processo) — começa Wladimir no vídeo que ele próprio divulgou depois a jornalistas pelo Whatsapp.
O deputado aborda em seguida o presidente, que conversava com o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e seu filho, Fernando Coelho Filho (PSB-PE), ministro de Minas e Energia:
— Presidente, vitória do povo brasileiro, maioria absoluta, Deus e Michel Temer, com a sua biografia e sua história.
Temer, então, responde:
— Wladi, foi uma vitória significativa, porque afinal foi mais do que a maioria absoluta da Câmara dos Deputados, o que revela a conexão, a junção muito grande entre o Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados, e o Poder Executivo. O Poder Executivo fez... perdão, a Câmara dos Deputados fez o que deveria fazer: justiça. Eu estou muito grato à Câmara dos Deputados, aos brasileiros e brasileiras que nos apoiaram neste tempo, aqueles que compreenderam as dificuldades do país, que estamos superando as dificuldades do país.
Wladimir termina a conversa e o vídeo com um "é nóis":
— Graças a Deus, "é nóis", é a turma do Michel Temer, Deus no comando.
O deputado gravou um segundo vídeo, ainda no Planalto, e o enviou a jornalistas. O vídeo foi intitulado "Maioria absoluta porra !!! (sic)." Wladimir estava no salão onde Temer fez uma declaração à imprensa, após a vitória na Câmara.
— Já são quase 23 horas, acabamos de celebrar a vitória do presidente Michel na Câmara dos Deputados. A vitória foi por maioria absoluta, mostrando a força política e o respeito à ética e à integridade — disse o deputado no vídeo.