Deputado não explica mensagem em que pede dinheiro a doleiro

O deputado preferiu rebater 2 denúncias contra ele com negativas vagas e argumentações técnicas sobre a presunção da inocência e o sigilo do inquérito

Argôlo diz que “jamais manteve qualquer relação ilícita com Youssef” | Lúcio Bernardo Jr/Ag.Câmara
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Em uma defesa de 64 páginas entregues nesta terça-feira (24) ao Conselho de Ética da Câmara, o deputado Luiz Argôlo (SD-BA) não esclarece absolutamente nenhuma das mensagens em que pede dinheiro ao doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato. O deputado preferiu rebater duas denúncias contra ele com negativas vagas e argumentações técnicas sobre a presunção da inocência e o sigilo do inquérito.

O PPS e o PSOL ingressaram com representação contra Argôlo depois que a revista Veja e o jornal Folha de S.Paulo revelaram a transcrição das mensagens de celular entre ele e Youssef. Em 16 de setembro de 2013, conforme diálogos captados pela PF, o deputado combina receber dinheiro do doleiro em seu apartamento funcional, na 302 Norte, em Brasília. Em março deste ano, Youssef afirma ter repassado R$ 120 mil para o chefe de gabinete de Argôlo. Em outra mensagem, revelada pelo jornal, o deputado pede que o doleiro deposite um total de R$ 100 mil na conta de uma pessoa e de uma empresa.

De maneira superficial, o advogado de Argôlo nega irregularidades sem explicar a que se referem os pagamentos mencionados nos torpedos. ?Praticamente nada disso procede, nem há qualquer infração ética?, afirma Aluísio Lundgren Regis, na defesa. Ele diz que o deputado ?jamais (?) usou seu cargo público para obtenção de benefício para si ou para outrem?. O deputado, ?jamais manteve qualquer relação ilícita com Youssef?.

Argôlo deixou o PP, da base aliada, para engrossar o Solidariedade, da oposição. Para Lundgren, isso é demonstração de que o deputado ?mostra desapego a cargos ou eventuais benesses pessoais?.

O silêncio do deputado sobre questões fundamentais seria justificado porque ele não possui uma cópia integral do inquérito da Operação Lava Jato. ?Não pode o representante esclarecer, por ora, o contexto em que os diálogos foram travados, se realmente eles existirem?, afirma, evasiva, a defesa de Argôlo. Mesmo quando obter os papéis e mídias, o parlamentar não garante que se explicará. ?Prestará informações complementares e arrolará novas testemunhas, se for o caso (?) dirimindo toda a e qualquer dúvida que possa eventualmente existir?, diz a defesa.

Youssef era ligado ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, indicação do PP. Argôlo diz que, apesar de ter pertencido ao partido, ?jamais indicou qualquer diretor na Petrobras?.

Linchamento e romantismo

O advogado reclama de ?linchamento? ao qual Argôlo é exposto e reclama do vazamento de informações do inquérito da operação policial. Segundo a defesa, o processo no Conselho de Ética não deve continuar porque as provas ? as mensagens eletrônicas ? foram obtidas por ?meios criminosos?.

Argôlo anexou à sua defesa o voto do relator de seu processo interno no Conselho de Ética do Partido Solidariedade, Pedro Nepumuceno Filho. No texto, o correligionário pede o arquivamento do caso porque viu apenas uma ?amizade íntima com uma pessoa investigada criminalmente?. Segundo Argôlo, o voto de Nepumuceno resultou no fim da apuração interna.

Há até mensagens românticas trocadas entre o deputado e o doleiro. Em 28 de fevereiro deste ano, às 8h33, Argôlo diz: ?Você sabe que tenho um carinho por vc e é muito especial?. Yossef responde que também tem. O deputado continua: ?Queria ter falado isso ontem. Acabei não falando. Te amo.? O doleiro concorda: ?Eu amo você também. Muitoooooooooo<3?.

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