O deputado distrital Geraldo Naves (sem partido, ex-DEM) disse nesta quarta-feira "nunca ter ouvido" do ex-governador José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM) "qualquer tipo de proposta ilícita". Ele voltou a negar a acusação de suborno e afirmou ter sido "enjaulado" mesmo sem ser réu.
Naves ficou preso durante dois meses no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), sob a acusação de suborno a testemunha do inquérito que investiga um suposto esquema de pagamento de propina no DF. Além dele, o ex-governador Arruda e outras quatro pessoas também tiveram a prisão preventiva decretada.
Na última segunda-feira, a Corte Especial do STJ revogou as prisões. Solto, Naves tomou posse ontem como titular na Câmara Legislativa do Distrito Federal e hoje fez seu primeiro pronunciamento na tribuna do plenário da Casa.
"É assim que eu me sinto hoje: condenado. Agora, condenado por quem? Eu não sou réu, nem sequer fui ouvido, nem sequer fui intimado para ser ouvido, mas fui enjaulado", disse.
O deputado voltou a contar sua versão sobre o bilhete que o jornalista Edmilson Edson dos Santos, conhecido como Sombra, apresentou à Polícia Federal como sendo indício da tentativa de suborno para que o jornalista mudasse seu depoimento para favorecer o ex-governador.
Naves voltou a negar que o bilhete tivesse qualquer relação com suborno e apontou o que seriam, em sua análise, irregularidades nos depoimentos que o incriminaram. De acordo com o distrital, um depoimento diz que ele procurou a testemunha em datas que impossibilitariam a interpretação de que a proposta seria, na verdade, uma tentativa de suborno.
"Os depoimentos dizem que eu fui procurado, entre os dias 6 e 8 (de janeiro), para comprar fita (de gravações). Ora, se ele foi intimado, como testemunha, no dia 15, como eu poderia saber que ele seria testemunha? E como o seu depoimento ocorreu no dia 21?", afirmou, sem citar o nome de Sombra.
Neste ponto do relato, o deputado disse que a denúncia é a de que ele teria R$ 2 milhões para o suborno, o que foi negado, e acrescentou seu posicionamento sobre o ex-governador. "Eu nunca ouvi do governador, em momento algum qualquer tipo de proposta ilícita. Nunca ouvi, eu não", afirmou.
O bilhete tinha as seguintes frases: "gosto dele", "sei que tentou evitar", "quero ajuda", "sou grato", "Geraldo está valendo", "GDF ok". Os tópicos, na versão de Naves, referiam-se ao que o jornalista havia dito ao procurá-lo como intermediário para um encontro com Arruda.
"Ele me disse, textualmente: "Eu preciso ter acesso ao governador". E eu disse: "O que você quer que eu diga a ele?", "Que eu gosto dele, tentei evitar essa crise, tenho como evitar que ele caia, sou grato a ele por tudo o que ele fez", e eu disse: "Evitar como?", "Isso eu vou falar a ele, consiga um encontro dele comigo", afirmou o deputado, ainda sem citar o nome do jornalista.
O pedido foi repassado ao então governador, que teria tomado nota em um papel, como seria um costume seu. Naves teria pedido para ficar com o bilhete, para lembrar dos tópicos e depois, a pedido do jornalista, repassou a ele. "Por que de repente uma simples anotação de um pedido se transforma em crime?", disse o deputado.
"Hoje, qualquer anotaçãozinha serve pra você ir pra cadeia. Há que se tomar cuidado. Agora, fui preso por quê? Não sou réu em processo algum. A denúncia nem aceita foi ainda. Mas eu já cumpri pena", afirmou.