O deputado estadual Gustavo Perrella (Solidariedade-MG) gastou R$ 14 mil de verba indenizatória da Assembleia Legislativa de Minas Gerais neste ano para abastecer o helicóptero que foi apreendido pela Polícia Federal carregando 445 kg de pasta base de cocaína no último domingo, no Espírito Santo. O parlamentar disse que não sabia que a aeronave iria transportar drogas.
Em entrevista ao site por telefone, Perrella confirmou o uso do dinheiro para este fim, mas afirmou que o combustível utilizado nesse voo foi pago "em dinheiro pelo piloto no aeroporto" e que não foi utilizado dinheiro público. A reportagem não consegui falar com o advogado Nicácio Antunes, que representa o piloto.
"A verba indenizatória não foi paga esse mês ainda. Não passei os gastos para a Assembleia, não tem como [dinheiro público ter pago o voo]". A aeronave pertence à empresa Limeira Agropecuária, da qual o parlamentar é sócio.
A Assembleia ainda pagava, desde abril, o salário de R$ 1.700 para o piloto que dirigia a aeronave, Rogério Almeida, exonerado na terça-feira segundo o "Diário Oficial".
Em junho, o valor gasto pelo parlamentar com querosene chegou a R$ 3.483, e em julho, durante o recesso parlamentar, o deputado gastou R$ 1.547 em combustível para o helicóptero. Perrella afirmou que "continua trabalhando mesmo durante o recesso".
O Ministério Público de Minas Gerais afirmou que vai investigar o fato. "Nós vamos apurar. Se trata de um recurso público, e nos interessa saber se foi gasto no exercício da atividade parlamentar. Vamos pedir as prestações de conta da Assembleia, e depois ouviremos o deputado", afirmou o promotor Eduardo Nepomuceno.
Cada deputado pode usar até R$ 5.000 por mês de verba indenizatória com combustível e lubrificante. De acordo com a assessoria da Casa, o uso do dinheiro para abastecer aeronaves é legítimo, desde que ela seja utilizada para compromissos de trabalho.
De acordo com a PF, Perrella não é suspeito de envolvimento na operação de transporte da droga.
Torpedo
O parlamentar disse achar que a aeronave estaria em manutenção no fim de semana, mas depois confirmou que recebeu mensagem do piloto avisando sobre o frete e deu "OK".
Sobre o recuo, o advogado de Perrella, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse que o deputado "julgou que a aeronave terminaria a vistoria [no fim de semana] e na segunda ele [o piloto] faria uma viagem para São Paulo para levar alguém".
Muamba
O advogado do copiloto Alexandre José de Oliveira Júnior, que foi preso pela PF durante a operação, disse que seu cliente acreditava que levava "muamba" do Paraguai na aeronave.
Oliveira é apontado pelo piloto Rogério Antunes como a pessoa que teria contratado o frete para transportar a carga.
Já o advogado Nicácio Tiradentes, que defende Antunes, afirma que ele não sabia que havia drogas na carga que transportava e que achava que se tratava de "insumos agrícolas".
Entenda o caso
O helicóptero foi interceptado pela Polícia Federal perto da cidade de Afonso Cláudio, no interior do Espírito Santo. Estavam na aeronave o piloto, que é funcionário da agropecuária, e mais três pessoas cujas identidades não foram reveladas pela PF.