A presidenta eleita Dilma Rousseff deverá estabelecer linhas oficiais de pobreza e de indigência no país para monitorar as políticas sociais do governo e medir a melhoria das condições de vida da população. O valor ainda não foi estabelecido, mas existe a possibilidade de o novo governo fixar em R$ 108 a mensal de cada pessoa da família como linha de pobreza.
A sugestão desse valor é do economista e coordenador do Centro de Políticas Sociais da FGV (Fundação Getulio Vargas), Marcelo Neri, que apresentou um seminário sobre políticas sociais para a equipe de transição do futuro governo em meados de novembro, com a ministra do Desenvolvimento Social, Márcia Lopes, e o economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Ricardo Paes e Barros.
De acordo com Neri, a presidenta Dilma - que prometeu em seu discurso de vitória erradicar a miséria e criar ?oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras? - quer ?sofisticar a tecnologia social? e suplantar os ganhos do governo Lula, que considera uma ?herança bendita?, porque diminuiu a pobreza em 45%.
A ideia, segundo o economista, é que a meta de erradicar a miséria seja tratada como a meta de inflação.
- Se tem uma meta de erradicar a pobreza é preciso saber qual o critério. Do mesmo modo que há uma meta de inflação, que escolheu o IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] como medida.
Para Marcio Pochmann, presidente do Ipea, o Brasil está na direção correta, mas é preciso uma sofisticação nas políticas.
- Por isso, se pensa ser necessário estabelecer uma linha administrativa da pobreza extrema.
O Ipea está fornecendo dados e análises para a definição dessas políticas e para fixar as linhas de miséria e de pobreza. Pochmann não quis adiantar os valores, mas assinalou que não é apenas uma ?decisão monetária? ou ?administrativa e política?, mas também uma escolha ?técnica com base na realidade?.
Marcelo Neri sugere que a verificação da renda das famílias seja mais criteriosa e não se baseie apenas na informação da renda reportada, mas também em dados sobre todos ?ativos? das pessoas do domicílio (tipo de trabalho, condições de moradia, acesso a serviços públicos, como saúde e educação) e ?carências? (crianças lactantes, pessoas com deficiência e idosos na família).
- Assim vai se olhar para quem é pobre e não apenas para quem está pobre ou diz que é pobre.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais de três brasileiros a cada grupo de dez não vivem com segurança alimentar (refeições necessárias e ingestão suficiente de nutrientes) e 11,2 milhões de pessoas ainda passam fome.