A presidente Dilma Rousseff disse nesta sexta-feira a jornalistas estrangeiros que pedirá ao Mercosul que suspenda o Brasil do bloco comercial se ocorrer a quebra do processo democrático no país, após chamar, em coletiva, o processo de impeachment em curso de "golpe".
O Mercosul tem uma cláusula democrática que pode ser ativada se um governo eleito de um de seus membros seja deposto, como já ocorreu com o Paraguai.A afirmação aconteceu na noite desta sexta-feira.
Pela manhã, durante participação em cerimônia na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), Dilma usou parte do seu discurso, no qual apresentou as medidas tomadas pelo governo brasileiro no acordo climático, para citar o "grave momento que vive o Brasil".
- A despeito disso quero dizer que o Brasil é um grande país, que soube superar o autoritarismo e construiu uma pujante democracia. O nosso povo é trabalhador e com grande apreço pela liberdade, e saberá impedir quaisquer retrocessos. Sou grata a todos os líderes que expressaram a mim sua solidariedade - declarou ela diante da plateia de chefes de estado.
A presidente também criticou a postura de três ministros do Supremo Tribunal Federal por darem sua opinião refutando o argumento da presidente de que o processo de impeachment seria um golpe.
Na opinião de Dilma, eles não deveriam ter se pronunciado. Ela lembrou que o impeachment é previsto na Constituição, mas que para isso é preciso ter crime de responsabilidade e que “esquecem crime de responsabilidade”.
- Não é a opinião do Supremo. É a opinião de três ministros. São apenas três ministros. E são ministros que não deveriam dar opinião porque vão me julgar - argumentou.
Ela afirmou ainda que não falou sobre o processo de impeachment na ONU porque "não era o momento", preferindo falar sobre os avanços climáticos no mundo, nos quais o Brasil teve um papel fundamental. E criticou a imprensa brasileira por ter noticiado, inclusive em editorial, que ela falaria sobre a crise política sem que isso fosse verdade.
- Eu não tenho culpa se vocês, bom, sei que não é ninguém aqui pessoalmente, estou dizendo, em geral, a imprensa, se a imprensa vai e faz até editoriais dizendo que eu vou à ONU para falar mal do Brasil. Eu fui à ONU para falar a verdade, e a verdade na ONU é a seguinte: nós tivemos uma participação decisiva nesta COP 21 (o acordo climático de Paris). Sem nós, essa COP 21 não teria o resultado que teve. Então vocês tem de ter orgulho que nós fomos decisivos para que hoje esteja sendo assinado por todos os países do mundo um acordo - disse ela.
A presidente disse ainda que vai defender o seu mandato graças aos 54 milhões de votos que teve e que, os líderes mundiais com os quais ela se encontrou nesta sexta-feira, na ONU, disseram palavras de apoio:
— Alguns me disseram: "força", "solidariedade”, “o momento é difícil", "Se segura, você é corajosa”.
Dilma ainda voltou a dizer que se sente vítima e afirmou que as pessoas que a criticaram pela possibilidade de falar da situação política no exterior temem, na verdade, serem taxados como golpistas.
— Eles temem ser chamados de golpistas por que são golpistas. Dizer que não é um golpe é incorreto — disse a presidente enfatizando a palavra "temem".
Mesmo em Nova York, a presidente Dilma Rousseff não deixou de ver manifestações populares a favor e contra o seu governo. Em frente à embaixada brasileira antes de falar com os jornalistas estrangeiros, dois protestos, um a favor e outro contra o impeachment, cada um com cerca de 20 pessoas, fizeram barulho para chamar a atenção das autoridades brasileiras, repetindo-se os gritos ouvidos nas cercanias na ONU, mais cedo. Enquanto um grupo batia panelas, outro chamava atenção com cartazes e flores.
Questionada sobre como sua família está vivendo este processo de impeachment, Dilma se mostrou emotiva:
- Eu não falo sobre a minha família, eu acredito que eles estão sofrendo. Você imagina o estaria a sua família estaria sentindo, então eu não posso falar porque dói, dói muito - disse Dilma
APOIO INTERNACIONAL
Ela foi recebida em Nova York, na noite de quinta-feira, com flores por um grupo de 50 pessoas, à porta da residência oficial do embaixador Antonio Patriota, em uma manifestação contra o impeachment.
Dilma sentou-se ao lado do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e à frente do embaixador Antonio Patriota. Deputados da oposição também viajaram aos Estados Unidos.Além de sustentar a versão do 'golpe' no ambiente internacional, a viagem e o discurso de Dilma ao encontro da ONU sobre o clima representam uma tentativa do governo brasileiro de emplacar uma agenda positiva em meio à crise política do país.
A presidente decidiu participar da reunião pouco mais de 24h antes de embarcar. Receosa em deixar o Brasil, Dilma confirmou sua ida a Nova York a partir da avaliação de que os veículos de imprensa de fora têm dado mais espaço para a defesa da presidente.