Em seu primeiro pronunciamento público após o afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nesta quinta-feira (5), a presidente Dilma Rousseff (PT) disse lamentar que a decisão liminar não tenha sido tomada antes, mas comemorou o ato do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Teori Zavascki: "antes tarde do que nunca".
"A única coisa que eu lamento, mas eu falo 'antes tarde do que nunca', é que (…) ele tenha presidido, na cara de pau, o lamentável processo na Câmara [de votação do impeachment, no dia 17 de abril]", afirmou a chefe de Estado, durante a cerimônia de início da operação comercial da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em Vitória do Xingu (PA).
O presidente da Câmara afirma que é alvo de "perseguição política" do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Sobre as acusações de que ele e seus aliados operam "manobras" para vencer votações de seus interesses na Câmara e prejudicar o andamento do processo contra Cunha no Conselho de Ética por quebra de decoro, o presidente da Câmara diz que segue o regimento.
Dilma contou ter sido informada da decisão antes de sair de Brasília e descreveu a justificativa de Zavascki para a plateia: "alegou que ele estava usando de seu cargo para fazer pressões, chantagens, etc". Também relembrou o início do processo de impeachment, em dezembro do ano passado. "... foi uma chantagem do senhor Eduardo Cunha, que pediu ao governo votos para impedir o seu próprio julgamento no Conselho de Ética na Câmara. Nós não demos esses votos e ele deu início ao processo. É um claro desvio de poder", declarou.
Durante o pronunciamento, a presidente também voltou a se defender, procurando se diferenciar de Cunha e citando as acusações que pesam contra ele. "Eu não tenho conta no exterior. Nunca usei dinheiro público para a minha fortuna, o meu prazer, o meu conforto. Nunca. E não têm como me acusar porque já me investigaram de tudo o quanto é jeito", declarou.
A petista fez ainda críticas veladas ao vice-presidente Michel Temer (PMDB), que, no caso de afastamento da presidente em decorrência do acolhimento do impeachment pelo Senado, assume o cargo. "Quem sentar na minha cadeira vai ter que prestar conta para vocês. Eles dizem que não se pode gastar o que estamos gastando com os pobres, com a Bolsa Família (...) Eles não têm votos para pedir para a população brasileira engolir o que eles querem. Estão fazendo uma eleição indireta travestida de impeachment".
"O processo do meu afastamento, de impeachment, é golpista (...) Temos de afirmar em alto e bom som: a democracia é o lado certo da história. Não haverá perdão da história para os golpistas", acrescentou a presidente, no final do discurso.
Antes do discurso, parte da plateia se referiu a ela como "guerreira do povo brasileiro", chamou Cunha de "ladrão" e e se manifestou contra o que chamou de "golpe", em gritos de guerra. No evento, a presidente estava acompanhada do ministro-chefe de gabinete da Presidência, Jaques Wagner, e do recém-nomeado ministro das Minas e Energia, Marco Antonio Martins.