O ex-ministro José Dirceu afirmou nesta sexta-feira (23), em evento do PT paulista em Osasco (SP), que a militância petista deve fazer o "julgamento do julgamento" do mensalão.
Em outubro, o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou Dirceu por corrupção ativa e formação de quadrilha e, em novembro, fixou a pena em 10 anos e 10 meses.
Segundo o relator do caso, o ministro Joaquim Barbosa, Dirceu foi o "mandante" do esquema de pagamentos a deputados de partidos da base aliada em troca de apoio político ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No evento do PT nesta sexta, Dirceu disse: "Nós temos que fazer o julgamento do julgamento agora. Nós não temos medo da verdade dos autos, porque nos autos está a prova da nossa inocência. Nos autos, lá no Supremo Tribunal Federal, na ação penal 470, nos votos dos ministros que são públicos, está a teoria do domínio do fato sem prova, está que não se pode condenar por presunção, que as testemunhas de acusação estão sob suspeição, não está o contraditório, que não foi feito. Então nós não precisamos de apelar, nós podemos fazer um enfrentamento político, um enfretamento jurídico, conforme os autos. E temos que fazer na sociedade, como este ato aqui hoje, que é uma demonstração da nossa força. Temos que reproduzi-lo em todo o país, não só no estado".
O discurso durou cerca de 11 minutos. Dirceu disse que o julgamento da ação foi politizado e feito sob intensa pressão da imprensa. "Escolheram a questão da ética contra a corrupção. É o tema da história do nosso país que sempre foi usado pela direita para chegar ao poder, não pela via da democracia, mas sempre pela via golpista", completou.
Para o ex-ministro de Lula, a batalha contra a oposição "não pode ser em um campo onde eles têm a hegemonia e o controle". "Nós temos que retomar a batalha no campo da mobilização popular, sindical, social e política. Nós temos que ter uma agenda de reformas para o país. Evidente que temos de travar esse combate jurídico e também político, fazendo os recursos em todas as instituições, inclusive as internacionais", declarou.
Realizado no teatro de um colégio no centro de Osasco, o evento, anunciado como uma plenária do PT para fazer uma avaliação do processo eleitoral de 2012 e da ação penal 470 e suas consequências, acabou se transformando em um ato de desagravo ao deputado João Paulo Cunha, a José Genoíno e a José Dirceu, todos condenados no processo do mensalão.
Em discurso, o deputado João Paulo Cunha, que corre o risco de perder o mandato com a condenação, falou por mais tempo, 21 minutos. Ele relatou o abatimento com a decisão do Supremo. "Vocês não sabem como é dolorido, é de cortar o coração. Eu fiz uma opção, a de ficar do lado dos trabalhadores. Podem ficar tranquilos, desta mão aqui não sai sujeira", afirmou.
Cunha, que desistiu da sua candidatura à prefeitura de Osasco nas eleições de outubro, fez sua primeira aparição pública após sua condenação. "Há dois meses, quando fui condenado, me decretei um silêncio obsequioso. Foi uma opção, porque às vezes você fala com cabeça quente, com o fígado, e depois de uma queda dessas você perde mesmo o chão", afirmou. O deputado disse ainda que vai "cumprir o que a lei definir". "Mas não vou me acomodar. Eu sou inocente."
O ex-presidente do PT José Genoino, também condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, disse estar de "cabeça erguida". "O coração da gente está machucado, está doido, mas a cabeça está tranquila e erguida. Eu tenho a consciência da minha inocência. Aprendi na vida a nunca perder a esperança", disse. Genoino pegou 6 anos e 11 meses, e deve iniciar a pena em regime semi-aberto, ao contrário de Dirceu.
O ato em Osasco reuniu prefeitos, deputados e vereadores da legenda. Entre os dirigentes, estava presente o presidente estadual da sigla, Edinho Silva. Cunha, Genoino e Dirceu deixaram o evento sem conceder entrevistas.