E-mails apontam agendas particulares de Bolsonaro com Lindôra e Aras

Mensagens por e-mail indicam vários encontros com Lindôra Araújo e Aras

Bolsonaro teve agendas privadas com Lindôra e Aras | Valter Campanato/Agência Brasil
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A agenda privada do ex-presidente Jair Bolsonaro traz, no dia 11 de abril do ano passado, o registro de uma reunião com Lindôra Araújo, recém-promovida ao cargo de subprocuradora geral. Na ocasião, estava o senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do ex-presidente, sendo apontado como um dos padrinhos da indicação de Lindôra. Não há informações sobre a presença de Aras nesse encontro.

Oito dias após esse encontro, Lindôra falou disse ao Supremo Tribunal Federal (STF) que não via indícios de crime por parte do ex-presidente no inquérito que investigava a atuação de pastores lobistas na liberação de verbas do Ministério da Educação (MEC). Alegou que a simples citação de autoridades com foro por prerrogativa não era suficiente para atrair a competência do STF.

Em uma segunda ocasião, em 2 de maio de 2022, entre 19h10min e 19h40min, Lindôra se reuniu novamente com Bolsonaro, desta vez na presença de Augusto Aras. Três semanas após essa reunião, a vice-procuradora-geral concluiu que o ex-presidente não havia cometido crime de racismo em uma declaração polêmica direcionada a um apoiador negro.

A terceira reunião mencionada, registrada em 10 de agosto do mesmo ano, entre 20h45min e 21h30min, teve como consequência a defesa de Lindôra no STF para o arquivamento de um pedido de investigação contra o então presidente. Esse pedido havia sido feito por parlamentares devido a críticas de Bolsonaro ao sistema eleitoral em um encontro com embaixadores. Na época, Lindôra considerou "prematuro" abrir o inquérito e recomendou uma apuração preliminar. Augusto Aras também participou desse encontro.

No mesmo dia da terceira reunião, Lindôra protocolou uma manifestação crítica ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, por ter ordenado busca e apreensão contra empresários bolsonaristas que compartilharam mensagens golpistas em um grupo de WhatsApp. Ela reclamou da ausência de posicionamento da PGR antes da decisão e pediu acesso aos autos.

"É absolutamente inviável que medidas cautelares restritivas de direitos fundamentais, que não constituem um fim em si mesmas, sejam decretadas sem prévio pedido e mesmo sem oitiva do Ministério Público Federal", escreveu a subprocuradora, na ocasião. 

As informações sobre a agenda foram obtidas a partir de e-mails do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência. As mensagens, intituladas "agenda privada", seguiam o formato de calendário, incluindo participantes, horários e locais.

Durante o governo Bolsonaro, a lista de visitantes na residência oficial do presidente, o Palácio da Alvorada, permaneceu sigilosa.  Mensagens do celular de Cid também sugerem uma reunião matinal entre Lindôra e Bolsonaro em 26 de março de 2021. Lindôra Araújo, antes de sua promoção, era conhecida por ser rigorosa em casos de corrupção e desvio de recursos. Sua atuação incluiu pedidos de prisão contra desembargadores e denúncias contra o então governador Wilson Witzel.

No ano passado, Lindôra solicitou o arquivamento de sete das dez apurações preliminares abertas devido à CPI da Covid. Em cinco casos, os senadores pediam o indiciamento de Bolsonaro por crimes como epidemia com morte, charlatanismo e infração de medida sanitária. Lindôra não viu indícios de crimes na atuação de Bolsonaro durante a pandemia. A Procuradoria-Geral da República e Bolsonaro não comentaram sobre essas informações.

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