O bolsonarismo emergiu das urnas, ontem, como uma das forças do Congresso para a próxima legislatura. Dos novos 27 eleitos que vão compor 1/3 do Senado, nada menos que 20 têm alguma ligação ou simpatia pelo atual presidente da República e candidato à reeleição.
Além de cinco ex-ministros e um secretário com estreita ligação com o Palácio do Planalto, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) conquistou uma das cadeiras na Casa dos estados como representante do Rio Grande do Sul. Na Câmara, o Centrão também chega turbinado, sobretudo pela bancada eleita pelo PL.
Chama a atenção a eleição, para o Senado, de dois fieis bolsonaristas: Damares Alves (Republicanos), ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, que ficou com a terceira cadeira destinada ao Distrito Federal, e Marcos Pontes (PL), ex-ministro da Ciência e Tecnologia, que passa a integrar a bancada paulista. Os dois desmentiram as pesquisas de opinião e surpreenderam: enquanto ela tirou uma vaga que era tida como certa para a também ex-ministra Flávia Arruda (PL), o ex-astronauta despachou o ex-governador Márcio França (PSB) — que também era apontado nas sondagens junto ao eleitorado como praticamente eleito.
Embora tenha saído do governo Bolsonaro acusando o presidente de interferir no trabalho da Polícia Federal (PF), Sergio Moro (União Brasil) retorna à cena política agora como senador eleito pelo Paraná com o discurso anti-PT e anti-Lula, e com acenos a Bolsonaro — como aconteceu nos últimos dias antes da eleição. O ex-secretário da Pesca Jorge Seif Jr., que era um frequentador assíduo das lives do presidente no Palácio do Planalto, agora é um dos três representantes de Santa Catarina no Senado.
Já Rogério Marinho (PL), ex-ministro do Desenvolvimento Social, e Tereza Cristina (PP), que comandou a pasta da Agricultura, eram nomes fortes para aumentar a bancada conservadora na Casa dos estados. Um tinha as obras no Nordeste como credencial para conquistar a vaga, outra era ungida pelo agronegócio.
O bolsonarismo também está representado em personagens que jamais ocuparam cargos no primeiro escalão do governo, mas que são expoentes do conservadorismo. O Rio de Janeiro, por exemplo, reelegeu Romário, que reforça a bancada fluminense do PL na Casa. No Espírito Santo, o pastor neopentecostal Magno Malta (PL) — que na eleição de Bolsonaro, em 2018, tinha a convicção de que ocuparia algum cargo no governo — volta à Casa da qual saiu quatro anos atrás. O ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (União Brasil) foi reeleito pelo Amapá e sempre contou com o apoio do Palácio do Planalto.
No extremo oposto, os apoiadores ou simpáticos ao presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que emergiram das urnas rumo ao Senado são somente sete: Renan Filho (MDB-AL), Flávio Dino (PSB-MA), Otto Alencar (PSD-BA), Camilo Santana (PT-CE), Beto Faro (PT-PA), Tereza Leitão (PT-PE) e Wellington Dias (PT-PI).