Os cadidatos a presidência estão priorizando as mulheres ao fazer anúncios Facebook. O percentual de eleitoras que não escolheram um candidato à Presidência atingiu o maior nível em 20 anos em 2018.
O Facebook permite impulsionar posts para atingir apenas pessoas de determinadas idades, localidades, interesses e outros perfis. Entre os anúncios voltados para só um sexo, mais de 95% foi feito para mulheres e menos de 5% só a homens, mostra levantamento do G1 a partir de dados do Facebook.
Entre os dias 10 de setembro – a partir de quando os candidatos começaram a intensificar a campanha – e 1º de outubro, foram feitos 3.540 anúncios para impulsionar posts das páginas dos candidatos a presidente, de acordo com a Biblioteca de Anúncios do Facebook.
Deste total, 502 foram destinado a apenas um dos sexos. Entre esses, 485 foram voltados só para mulheres (96,5%) e 17 só para homens (3,5%).
Priorizar mulheres nos anúncios segmentados pode ser uma forma de falar com uma parte do eleitorado que ainda não decidiu o voto ou que pode mudá-lo.
Segundo pesquisa do Datafolha divulgada na terça-feira (2) 7% das mulheres ainda não sabem em quem votar para presidente. É mais que o dobro do índice de homens, de 3%. Já as intenções de voto "em branco/nulo/nenhum" é de 10% das mulheres e 6% dos homens.
Mulheres diversas
"Temos observado vários posts direcionados não só para mulheres, mas para pessoas interessadas em temas relacionados ao público feminino", diz Francisco Brito Cruz, diretor do InternetLab, centro de pesquisa sobre tecnologia e direito. Um dos projetos do centro é o Você na Mira, que analisa este impulsionamento pago de posts nas eleições de 2018.
Para Francisco, o motivo de serem feitos mais anúncios voltado para mulheres não é apenas o fato de elas estarem mais indecisas. Ele também acredita que a discussão sobre os direitos das mulheres, que apareceu diversas vezes durante a campanha, seja um incentivo para os candidatos fazerem esse impulsionamento com posts relacionados ao tema.
O projeto Você na Mira tem uma ferramenta que consegue identificar informações mais detalhadas de alguns anúncios além dos recortes de gênero e de região divulgados na Biblioteca de anúncios Facebook.
"Nos dois relatórios do projeto identificamos anúncios voltados a mulheres. Mas também vemos que eles fazem recortes específicos, como anúncios voltados para mulheres interessadas em feminismo, ou também outros temas como empreendedorismo e segurança. Existem diversas frações desta audiência", diz Francisco.
Anúncios por candidato
Veja abaixo o número de posts e quantos foram para público só de mulheres ou de homens, por candidato:
- Alvaro Dias (Podemos) - 5 anúncios, nenhum segmentado por sexo
- Cabo Daciolo (Patriota) - Não fez anúncios no período no Facebook
- Ciro Gomes (PDT) - 477 anúncios, 1 só para mulheres e 2 só para homens
- Eymael (DC) - Não fez anúncios no período no Facebook
- Fernando Haddad (PT) - 640 anúncios, 202 só para mulheres, 0 só para homens
- Geraldo Alckmin (PSDB) - 589 anúncios, 64 só para mulheres, 1 só para homens
- Guilherme Boulos (PSOL) - 126 anúncios, 21 só para mulheres, 0 só para homens
- Henrique Meirelles (MDB) - 1513 anúncios, 180 só para mulheres, 14 só para homens
- Jair Bolsonaro (PSL) - Não fez anúncios no período no Facebook
- João Amoêdo (Novo) - 89 anúncios, nenhum segmentado por sexo
- João Goulart Filho (PPL) - 42 anúncios, 2 só para mulheres, 0 só para homens
- Marina Silva (Rede) - 59 anúncios, 15 só para mulheres, 0 só para homens-
- Vera Lúcia (PSTU) - Não fez anúncios no período no Facebook
O levantamento não considerou anúncios que foram segmentados por sexo, mas feitos para impulsionar posts idênticos tanto para homens quanto para mulheres. Nestes casos, foi considerado que eles não priorizaram um só sexo (por exemplo, um mesmo vídeo que tenha sido anunciado duas vezes, uma só para homens e outra só para mulheres, não foi contabilizado).
Um anunciante no Facebook pode investir o quanto quiser em cada anúncio - quanto mais pagar, mais pessoas vai atingir a cada post. O site não informa o valor exato nem a quantidade de público determinada para cada anúncio em sua Biblioteca.
Por isso, não é possível afirmar que os candidatos que fizeram um número maior de anúncios segmentados para o eleitorado feminino investiram mais verba neste público, nem que atingiram um número maior de mulheres que os concorrentes em seus posts impusionados.