O ex-juiz Sergio Moro deve se filiar ao Podemos para disputar as eleições de 2022. A filiação deve ocorrer em novembro, quando ele retorna ao Brasil. Segundo a publicação da Gazeta do Povo, "Interlocutores de Moro e parlamentares da legenda assumem que as conversas avançaram ao longo das últimas semanas e o que até então era uma sinalização do ex-ministro da Justiça em se filiar evoluiu para um compromisso em disputar as eleições de 2022".
O Podemos trabalha para que a filiação ocorra em uma quarta-feira, preferencialmente no dia 10. Moro disse aos mais próximos que se filiará entre 10 e 21 de novembro. "A ideia é ser numa quarta-feira porque todos os deputados e senadores estarão em Brasília", explica um senador do partido ouvido pela Gazeta do Povo.
Alguns no Podemos dizem que se, por acaso, ele perceber que a perspectiva de furar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for difícil, ele poderá vir a concorrer como governador ou senador pelo Paraná. Contudo, a possibilidade de Moro não concorrer à Presidência é remota, uma vez que ele está convencido de que pode conseguir romper a polarização. Um dos motivos que o persuadiu a disputar o cargo é o resultado de uma pesquisa eleitoral interna do Podemos que o coloca na terceira colocação, com 10% das intenções de voto, segundo afirmam um senador e um deputado do partido.
Apoio de empresários
É improvável que Moro não se filie ao Podemos, admitem interlocutores do ex-juiz. "Como o Sergio é um cara de palavra, é difícil ele dar para trás nessa decisão", sustenta um empresário aliado. Um grupo de empresários do Paraná que trabalha por sua pré-candidatura e o auxilia na montagem de sua agenda eleitoral afirma, contudo, que sondagens não faltam.
Empresários desse grupo dizem ter recebido por Moro sondagens do Novo, do União Brasil — o partido que nasce da fusão entre o DEM e o PSL — e até do Republicanos, um partido aliado de Bolsonaro. "São convites que vieram das cúpulas desses partidos, não de diretórios [estaduais]. Os caciques estão querendo conversar com ele", afirma um interlocutor do ex-juiz.
As sondagens chegaram ao conhecimento de Moro e do Podemos, que evoluíram as conversas. "Há 16 dias, ele esteve em Curitiba e jantou na casa do [senador] Alvaro [Dias (Podemos-PR)]. A Renata Abreu [deputada federal e presidente do partido] se deslocou de São Paulo para lá. Nesse jantar, ele se comprometeu com os dois em assinar a ficha com o Podemos em novembro", afirma um senador.
O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) não confirma que a filiação de Moro esteja apalavrada, mas demonstra a expectativa de que isso ocorra. "A situação vai bem. A minha esperança de que o Moro se filie ao Podemos em 9 ou 10 [de novembro] é muito grande. Existem conversas nesse sentido, não está batido o martelo, mas tem grandes chances que ocorra", sustenta.
Retorno ao Brasil
O atual vínculo empregatício de Moro é um dos motivos pelos quais ele não pôde assinar sua filiação na recente passagem pelo Brasil. Moro mora atualmente nos Estados Unidos, onde presta serviços de consultoria em compliance para a empresa de consultoria Alvarez & Marsal.
O ex-ministro da Justiça comunicou sua decisão de retornar ao Brasil e disputar as eleições em 2022 à hierarquia da empresa e, portanto, pediu amigavelmente para romper seu contrato. A possibilidade para que isso ocorra se dará apenas a partir de 31 de outubro. Por isso, até lá, Moro permanece em Washington.
"A pequena dúvida que temos com relação ao dia da filiação [de Moro] se dá a essa questão", explica um senador do Podemos. "Depende da vinda dele em definitivo dos Estados Unidos, onde ele voltou para encerrar seu contrato com a empresa de compliance onde ele aplicou [aos clientes] regras de conformidade e transparência", complementa.
Uma vez filiado, o partido trabalhará para anunciar a pré-candidatura de Moro à Presidência. "Isso vai ter que ser decidido na convenção do partido e ele tem que querer. Mas você pode observar que, pelas andanças dele — ele esteve falando com [João] Doria [governador de São Paulo (PSDB), [Luiz Henrique] Mandetta [ex-ministro da Saúde e filiado ao DEM] —, ele está claramente interessado", analisa o senador Oriovisto Guimarães.
Discurso de união
Os interlocutores dizem, ainda, que Moro busca um partido coeso e alinhado a seus princípios. Ele deseja, por exemplo, um partido que combata a corrupção de forma intransigente e que esteja atento aos principais anseios da sociedade. No Senado, o ex-juiz identifica maior coesão às pautas votadas, diferentemente da Câmara.
Aliados de Moro no Podemos na Câmara analisam que, para vencer as eleições em 2022, ele não pode correr o risco de provocar uma desunião e que o partido precisa ser visto como um partido de todos os brasileiros moderados e de centro. "O Podemos não pode ser o partido de promotores e procuradores. É o partido que atende da empresa doméstica, do microempresário e do pequeno produtor rural ao grande empresário", alerta um deputado federal da legenda.
Já parlamentares do Podemos esperam de Moro um candidato à Presidência da República com um discurso agregador, que propague a união do Brasil. "Precisamos de alguém que comande o país sem revanchismos, como é o Bolsonaro. É hora de conciliar", sustenta um deputado federal do partido.
Com informações de Gazeta do Povo