Documento oficial da Polícia Federal expôs indiretamente uma possível omissão do ex-secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), Fernando de Sousa Oliveira, durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa (CLDF). O documento revelou que Oliveira teria preferido manter a Esplanada dos Ministérios aberta durante os atos de 8 de janeiro, contrariando uma recomendação da PF.
O ofício foi redigido pela Diretoria de Inteligência da Polícia Federal em resposta aos esclarecimentos solicitados pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do dia 8 de janeiro. O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que a corporação solicitou uma reunião de urgência com a SSP-DF em 7 de janeiro para informar que havia identificado a mobilização de pessoas rumo a Brasília.
Na reunião estavam presentes a subsecretária de operações, coronel Cíntia Queiroz, e Fernando Oliveira, que atuava como secretário interino na ausência de Torres. Andrei expressou a preocupação da PF, pois o movimento golpista pretendia "ocupar a Esplanada dos Ministérios e contestar o resultado das urnas eleitorais". Como solução, o diretor-geral solicitou medidas como o isolamento da Esplanada.
No entanto, a resposta da SSP-DF foi contrária à sugestão da PF, afirmando que se tratava de uma "simples manifestação pacífica" e que não era necessário fechar a Esplanada. Diante da recusa, Andrei redigiu um rascunho de ofício que foi encaminhado ao ministro da Justiça, Flávio Dino, descrevendo a situação crítica e os possíveis desdobramentos. O documento foi despachado no mesmo dia para o governador Ibaneis Rocha.
De acordo com o Protocolo de Ações Integradas (PAI) elaborado em 6 de janeiro, veículos e caminhões não deveriam ter acesso à Esplanada, e os manifestantes não deveriam chegar à Praça dos Três Poderes. O documento estabelecia que, caso houvesse a presença de manifestantes, a Esplanada dos Ministérios poderia ser fechada por meio de acionamento da SSP. No entanto, nos atos de 8 de janeiro, a Esplanada permaneceu aberta aos manifestantes, e as tentativas da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) de bloquear o acesso foram facilmente obstruídas pelos apoiadores do governo.
Um memorando entregue à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos revelou que Fernando Oliveira detalhou os acontecimentos antes e depois do dia 8 de janeiro, omitindo a sugestão da PF de fechar a Esplanada. No documento, a defesa do ex-secretário-executivo afirma que Fernando teve reuniões com integrantes do Ministério da Justiça, ao qual a PF é subordinada, mas não esclarece a natureza desses encontros.
“Durante o sábado e domingo, dias 7 e 8 de janeiro, diligenciou de forma ativa, ora por meio de reuniões com integrantes do Ministério da Justiça e SSPDF, ora se reportando sobre o andamento da operação ao governador Ibaneis Rocha e ao ex-secretário Anderson Torres, e solicitando as forças policiais nos grupos de inteligência a real situação da execução do plano operacional”, cita o documento.
Em 25 páginas, representantes do ex-secretário revelaram informações e diálogos, por WhatsApp do número 2 da Segunrança do DF, momentos antes e após os atos antidemocráticos de 8 de agosto. Documento esclarece que Fernando ficou sabendo que Anderson Torres iria para os EUA no dia 5 de janeiro. No documento enviado à CPI, os advogados de Oliveira, que também é delegado federal, dizem ele não era secretário titular da pasta no dia 8, destinando, assim, a responsabilidade da falta de comando da SSP a Anderson Torres.