Uma história de ficção, que se passa em Brasília e tem como pano de fundo o maior escândalo político do governo Lula: o mensalão, suposto esquema de compra de apoio ao governo no Congresso. ?Nunca antes na história deste país?, filme de José Padilha, o mesmo diretor de "Tropa de Elite", tem previsão de ser filmado no segundo semestre de 2010 e deve chegar às salas de cinema do país em 2011. O filme foi um dos escolhidos no edital de seleção pública de projetos cinematográficos 2009 do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco vai liberar R$ 1 milhão para a produção da trama.
O G1 conversou com um dos integrantes da comissão avaliadora dos projetos patrocinados pelo BNDES neste ano. Responsável pelo Cine PE, o produtor Alfredo Bertini foi um dos profissionais encarregados pela análise do projeto. Ele conta que o filme de Padilha se passa em Brasília, relata o esquema de caixa dois em campanhas e de compra de votos de parlamentares - batizado de mensalão - e conta com sequências paralelas que relatam problemas sociais do país.
?O filme fala dessa história do mensalão. É uma ficção que envolve a relação entre o poder Legislativo e o poder Executivo, fala dos patrocinadores de campanha dos políticos. A trama se passa em Brasília e é intercalada por uma história paralela que fala um pouco dos problemas sociais do país?, relata Bertini.
Justiça
Os nomes dos personagens da trama são todos fictícios. Na vida real, o esquema do mensalão foi revelado em 2005 e é a maior causa em julgamento nos 200 anos de existência do Supremo Tribunal Federal (STF). Sem previsão de ser levado ao plenário da Suprema Corte, o processo está prestes a completar dois anos tramitando no STF e já acumula quase 100 volumes e mais de 170 anexos ? um calhamaço superior a 30 mil páginas e 150 quilos que exige três carrinhos elétricos para ser transportado.
Desde 12 de novembro do ano passado, quando foi protocolado, todos os 40 réus - alguns deles personagens ilustres da política nacional - e as 41 testemunhas de acusação já prestaram depoimento. Pelo menos 34 advogados atuam na defesa dos réus do mensalão. Na fase atual, o STF está concentrado sobre as testemunhas de defesa, cerca de 600.
Nesta quinta-feira (29), o ex-presidente da Câmara e deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) disse, durante depoimento à Justiça, que estava presente na reunião em que o presidente do PTB, Roberto Jefferson, revelou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que acreditava existir um esquema de compra de apoio ao governo no Congresso, antes de o caso vir à tona.
Em 2005, quando foi ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, Lula falou sobre o escândalo e Roberto Jefferson, então deputado federal. "Ele [Jefferson] foi cassado exatamente porque não provou a denúncia que ele fez no que diz respeito, por exemplo, aos mensalões. O José Dirceu [ex-ministro da Casa Civil] foi acusado de ter montado uma quadrilha. E sobretudo, uma quadrilha para pagar mensalão. (...) Teve ou não mensalão? Tenho certeza que não teve," disse o presidente.
Apresentação
Como parte do processo de seleção realizado pelo BNDES, Bertini conta que Padilha fez uma apresentação oral do projeto aos integrantes da comissão. Ele fez a defesa do projeto, explicando detalhes do roteiro e a estratégia de captação de recursos do plano comercial da obra. ?É importante para tirar dúvidas e saber o que o diretor está pensando. Ele tem experiência e bons roteiros, o plano comercial está bem amarrado?, avalia Bertini.
Bertini relata que o processo de escolha das obras foi bastante rigoroso e seguiu critérios do banco. ?Seguimos critérios do banco, que privilegia produtos comerciais. Esse filme tem estimativa de público superior a um milhão de expectadores. É um produto da cota comercial de projetos?, argumenta.
Envolvido com a pré-produção da sequência da saga de "capitão Nascimento", Padilha justificou, por meio de sua assessoria, não ter tempo para conversar sobre a obra. "José Padilha está super ocupado com o Tropa de Elite 2 que está em pré-produção. Nunca Antes na História deste País é um projeto que será gravado daqui a um ano. Então, Padilha prefere não comentar o roteiro no momento."
Projetos
O BNDES recebeu 223 projetos para o processo de seleção deste ano. A escolha dos trabalhos foi realizada por uma comissão formada por nove membros, sendo três do BNDES, um indicado pelo Ministério da Cultura e cinco integrantes externos contratados entre profissionais do setor audiovisual.
Os integrantes da comissão receberam o material dos trabalhos, roteiro e plano comercial em casa. A diretoria do BNDES homologou 25 projetos dos gêneros de Ficção, Animação e Documentário. Os contemplados irão receber um total de R$ 14 milhões. Desde 1995 o BNDES patrocina a atividade audiovisual, já tendo aportado mais de R$ 132 milhões em 347 produções cinematográficas. Os recursos são provenientes da aplicação de incentivos fiscais previstos na Lei do Audiovisual.