Dois anos depois de ser o piv? da queda de Antonio Palocci do Minist?rio da Fazenda, o caseiro Francenildo dos Santos Costa tem o que cobrar. Diz que muitas pessoas, inclusive senadores da oposi??o, prometeram lhe ajudar com um emprego ap?s o esc?ndalo que derrubou o ministro. At? hoje, ningu?m apareceu.
Francenildo, 25 anos, est? desempregado. Mora numa casa simples em S?o Sebasti?o, no Distrito Federal, com a mulher e um filho de oito anos. Faz bicos de jardinagem em algumas casas do Lago Sul. Cobra R$ 60 por dia de trabalho. E n?o esquece das promessas feitas em 2006. ?Alguns diziam: ?Quando a poeira baixar, vou te ajudar?. Hoje ningu?m liga mais.?
Ele recebeu o Correio em casa na ?ltima sexta-feira. Do lado de fora do im?vel de dois quatros, pediu discri??o ao fot?grafo, alegando que os vizinhos n?o sabem que ele ? o famoso ?caseiro do Palocci?. Dentro da casa, Francenildo abriu o jogo: revelou que sua mulher, copeira em uma embaixada no Lago Sul, ? quem segura as contas da casa com uma renda de R$ 900 mensais. ? ela quem paga as presta?es de uma televis?o de 29 polegadas.
Como jardineiro, ele consegue juntar at? R$ 700, valor que sobe quando faz bicos como gar?om em festas de luxo. ? noite, cursa a sexta s?rie do ensino fundamental, modelo supletivo, em uma escola de S?o Sebasti?o. Na mesa da sala, guarda e l? o livro O menino do dedo verde, de Maurice Druon, cl?ssico da literatura infanto-juvenil que trata de um menino que tem poderes para criar plantas.
Segundo Francenildo, um ou outro colega sabe de sua fama como caseiro. ?A fama para um brasileiro ? sempre boa, mas do jeito que aconteceu comigo, n?o?, afirma. ?Eu queria ter um emprego digno, carteira assinada, pagar INSS, hora para chegar para trabalhar, essas coisas?, diz.
Sem Arrependimento
Apesar das dificuldades, ele n?o se arrepende de ter ido ? CPI dos Bingos revelar que Palocci freq?entava a mans?o no Lago Sul usada por lobistas de Ribeir?o Preto. A casa era alugada por Rog?rio Buratti e Vladimir Poleto, velhos amigos do ex-ministro, hoje deputado federal. Francenildo era o caseiro. E contou aos parlamentares cada detalhe das visitas de Palocci ao local.
Na ?poca, o extrato banc?rio do caseiro foi violado e pouco mais de R$ 20 mil foram encontrados. Aliados do ex-ministro tentaram passar a vers?o de que o dinheiro foi pago pela oposi??o para convencer Francenildo a falar. A Pol?cia Federal a desmontou e confirmou a vers?o de Fracenildo de que os recursos foram depositados por seu pai, no Piau?. Na ?ltima segunda-feira, a Procuradoria-Geral da Rep?blica denunciou Palocci, seu ex-assessor Marcelo Netto, e Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econ?mica Federal, por quebra de sigilo funcional e banc?rio. O Supremo Tribunal Federal (STF) agora decide se abre ou n?o processo contra eles, enquanto Francenildo cobra na Justi?a uma indeniza??o milion?ria da Caixa.
Dois anos se passaram do esc?ndalo. Francenildo reafirma o que disse no Congresso, e se diz ?aliviado? com a den?ncia do procurador. Ele volta a dizer que jamais recebeu qualquer oferta financeira para depor. Conta que tomou a iniciativa de falar porque ficou com medo quando viu seu nome nos jornais em refer?ncia ? casa dos lobistas.
Na ?poca, seguiu a dica do corretor da casa, seu amigo, e procurou o ent?o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT). ?S? fui atr?s do Antero porque o corretor da casa falou que eu precisava de uma garantia no Senado?, diz Francenildo.