Com a repercussão negativa do apoio do general da reserva Sebastião Roberto Peternelli Júnior ao golpe militar de 1964, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou nesta quarta-feira (6) que o militar não assumirá a presidência da Funai (Fundação Nacional do Índio).
O ministro reconheceu que o militar foi indicado para o posto pelo PSC, como revelou a Folha de S.Paulo, mas ressaltou que o Ministério da Justiça, ao qual o órgão federal é vinculado, busca um nome com outro perfil para o posto, que tenha um histórico de diálogo com as comunidades indígenas.
"Não há nenhum óbice ou veto pessoal ao nome que foi indicado pelo PSC, mas não será ele [general] o presidente da Funai, porque estamos em negociação com outro tipo de perfil", disse.
O Palácio do Planalto tinha definido o general como o novo presidente da Funai. O nome já havia sido enviado e aprovado previamente pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que costuma fazer averiguação prévia sobre nomes indicados ao governo federal.
Na manhã desta quarta-feira (6), mesmo após a revelação, assessores e auxiliares presidenciais disseram não ver impedimentos para a nomeação do militar. Nas palavras de um ministro, o general "não pode ser penalizado por uma posição histórica".
A repercussão negativa, no entanto, levou o Ministério da Justiça a se opor à indicação, o que travou a escolha. Ainda assim, há uma ala do governo federal que ainda defende a nomeação do general, por considerá-lo adequado para a função.A declaração de Moraes foi feita após reunião no Palácio do Planalto com líderes indígenas que fizeram protesto nesta quarta-feira (6) na frente do Palácio do Planalto contra a indicação do general.
Em entrevista à imprensa, o cacique baiano Aruã Pataxó defendeu que o presidente interino escolha para o órgão federal um nome de um técnico ou político com diálogo com comunidades indígenas, e não o de um militar.
A indicação para o comando da Funai foi oferecido ao PSC pelo apoio do partido ao governo interino. Segundo documento da Comissão Nacional da Verdade, ao menos 8.000 indígenas foram mortos durante a ditadura militar no país.