Há um ano, o Brasil enfrentou um dos maiores desafios à democracia, quando uma multidão invadiu e vandalizou as sedes dos Três Poderes em Brasília. Na noite de 8 de janeiro de 2023, o governo brasileiro viu-se obrigado a negociar um acordo com generais do Exército para desmobilizar o acampamento onde os manifestantes golpistas estavam concentrados.
Esses eventos são revelados por autoridades em entrevistas concedidas aos jornalistas Julia Duailibi e Rafael Norton no documentário "8/1: A Democracia Resiste", da GloboNews. O documentário estreia neste domingo (7), às 23h30, e será reprisado na segunda-feira (8), às 21h, marcando o aniversário de um ano do ataque à democracia.
Na noite dos ataques, após a invasão e depredação das sedes dos três poderes, Ricardo Cappelli, número dois do Ministério da Justiça e recém-nomeado interventor na Segurança Pública do Distrito Federal, tinha ordens para entrar no acampamento dos golpistas, que ficava em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, e realizar as prisões em flagrante.
Não foi tão simples. O interventor esbarrou no general Gustavo Henrique Dutra, que era contra a entrada da PM no local sob justificativa de que a operação teria “alto grau de risco”. Dutra disse acreditar que, caso Cappelli entrasse naquela noite no acampamento, poderia “terminar a noite com sangue”.
A PM estava sob comando de Cappelli havia apenas algumas horas, uma vez que ele havia se tornado interventor. O impasse levou ambas as tropas, da polícia do Exército e da Polícia Militar, a ficarem frente a frente próximo ao quartel.
“Eu chego na altura em que o Cappelli havia me dito que a PM estava. Quando me viro, vejo a polícia do Exército em formação, duas ou três linhas, mas não de frente para o acampamento, de frente para a PM. E eu vi também uns blindados do Exército se locomovendo, saindo de vias e se agrupando ali com soldados aparatados como se fossem para um combate”, diz o ministro Flávio Dino.
Antes que Dino e outros ministros chegassem ao local, o então comandante do Exército, Júlio César Arruda, pediu a Cappelli que conversassem. O interventor foi então ao encontro de Arruda. Cappelli diz ter sido questionado pelo então comandante, na presença de outros generais do Alto Comando do Exército.
“Ele me cumprimenta muito sério, nós subimos para a sala dele, sentamos em uma mesa e assim que eu me sentei, ele se virou para mim e falou: 'O senhor ia entrar aqui com homens armados sem a minha autorização?'”, afirma Cappelli, que atualmente é o ministro interino da Justiça e Segurança Pública.