Um dos primeiros e principais negociadores da crise em Honduras, o presidente costarriquenho, Oscar Arias, disse em entrevista à BBC que o governo interino do país não tem demonstrado "boa vontade para dialogar". A posição do governo interino, encabeçado por Roberto Michetelli, ficou ainda mais delicada depois que o Conselho das Nações Unidas condenou o assédio à embaixada brasileira na capital hondurenha, Tegucigalpa, onde o presidente deposto Manuel Zelaya encontra abrigo.
Nesse contexto, Oscar Arias defendeu, como uma fórmula ainda válida, o acordo negociado em San José da Costa Rica --ao qual o governo de Micheletti se opõe violentamente, porque nele estaria prevista a volta de Zelaya ao seu cargo. Leia os principais trechos da entrevista: O sr. tem insistido que a solução para a crise em Honduras passa pelo acordo de San José, mas de lá para cá o presidente Manuel Zelaya retornou ao país e as partes parecem ter iniciado contato.
O acordo continua válido ainda que sob circunstâncias diferentes? Sim. A essência deste acordo é a restituição de José Manuel Zelaya como presidente constitucional (...) e até hoje o governo interino negou essa possibilidade. Alguns países mencionaram o retorno incondicional do presidente Zelaya, e isso está longe de acontecer. Porém o acordo de San José é o único acordo que está em cima da mesa e o Conselho de Segurança (da ONU), a pedido do governo do Brasil, mais uma vez manifestou o seu apoio a esta mediação. Está-se pensando se é factível que uma série de chanceleres, juntamente com o secretário-geral da OEA, visite Honduras o mais rápido possível.
Tem-se falado que eles possam partir neste domingo e se sentar à mesa com as partes mais uma vez para dialogar. Mas o mais importante é que haja vontade de ambas as partes para assinar o acordo e, sobretudo, para dar cumprimento a ele, o que até hoje não ocorreu O sr. vê mais disposição do governo de Roberto Micheletti para o diálogo desde que Zelaya regressou a Honduras ou crê que, pelo contrário, o governo fechou posição? Estando Zelaya na embaixada brasileira, quem tem de falar sobre isso são os delegados de ambas as partes, e certamente esse diálogo pode ser retomado em Tegucigalpa.
Mas o sr. vê futuro e boa vontade nessas conversas? Pode-se sentar à mesa e dialogar, mas não queremos que se sentem a dialogar eternamente. Também queremos chegar a acordos, mas desde que eles sejam cumpridos. Até hoje, apesar das sanções, apesar de o governo interino ter perdido recursos sumamente benéficos provenientes dos Estados Unidos e da União Europeia, nenhuma sanção, incluindo o cancelamento dos vistos, deu frutos e estamos realmente estancados.
Não foi possível haver boa vontade do governo interino para dialogar e cumprir com os acordos que já haviam sido alcançados em San José. No discurso, todos disseram que concordam com eles, mas Roberto Micheletti tem dito reiteradamente que não aceita o retorno de Manuel Zelaya. Quanto tempo o sr. está disposto a apoiar esta proposta de acordo caso o governo interino não aceite o retorno de Zelaya? Se o governo interino não quiser cumprir o acordo de San Jose, não há nada mais sobre a mesa.