A senadora Regina Sousa (PT-PI) leu atentamente as razões levadas em consideração pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para determinar a suspensão do mandato do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e teve sua atenção chamada para a citação, feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e ressaltada pelo Supremo, do envolvimento de um parlamentar piauiense na trama para salvar o mandato de Cunha e livrá-lo de uma possível pena de cadeia.
De acordo com a denúncia redigida por Janot e acatada pelo STF, Eduardo Cunha montou uma verdadeira "rede de obstrução" à Justiça para se blindar das investigações. Entre seus protetores, segundo Janot e o STF, está o deputado federal Heráclito Fortes (PSB-PI). No pedido original de afastamento de Cunha, o procurador denuncia que Eduardo Cunha transformou a Câmara em um "balcão de negócios" em benefício de suas conveniências e, para isso, contou com a parceria e colaboração de Heráclito Fortes.
Segundo Janot, o deputado Eduardo Cunha solicitou ao seu aliado Heráclito Fortes a apresentação do projeto de lei 2.755/2015 para “impedir que um colaborador corrija ou acrescente informações em depoimentos já prestados”. Janot disse, na peça acusatória, que o projeto foi feito sob medida por Heráclito para impedir que o delator da Lava-Jato, Julio Camargo, que já havia dado um depoimento suave em relação a Cunha, voltasse a depor, se retratando e incriminando Eduardo Cunha como beneficiário de propinas decorrentes de contratos da Petrobras.
Os temores de Cunha e Heráclito tinham procedência: em depoimento extra, feito rapidamente antes da aprovação do projeto, Julio de Camargo disse que pagou 5 milhões de dólares em propina a Eduardo Cunha em uma transação envolvendo a Petrobras e a empresa Samsung Heavy Industries. Ao justificar porque só citou o deputado federal em uma oitiva complementar, Camargo disse que temia a atuação do presidente da Câmara
Ao consultar o resumo da tramitação do projeto apresentado por Heráclito Fortes para proteger Cunha, Regina Sousa percebeu que os dois personagens também tentaram agir com velocidade. “Dois dias após a apresentação do projeto encomendado a Heráclito, Eduardo Cunha, na condição de Presidente da Câmara, determinou que a proposta tramitasse apenas pelas comissões de Segurança Pública e de Constituição e Justiça, ambas totalmente dominadas por parlamentares fiéis a ele”, apurou a senadora. Isso significa que, se fosse aprovado nestas duas comissões, o projeto não precisaria ser submetido à votação pelo plenário da Câmara, garantindo total proteção a Cunha.
Regina Sousa lembra que Heráclito Fortes se gabou à imprensa de ter transformado sua casa em quartel general do que ele mesmo chamou de “golpe democrático” para retirar o mandato popular dado a Dilma Rousseff. Agora, a Procuradoria Geral da República e o STF demostram que sua participação na conspiração para condenar uma mulher honesta e livrar da cadeia o corrupto Cunha, vai muito além. “Heráclito Fortes aceitou apresentar este projeto apenas para salvar o mandato e os privilégios do delinquente Eduardo Cunha, o mesmo que, por vingança, arquitetou e comandou o golpe contra Dilma Rousseff”, afirmou.