Hospital que deveria funcionar desde 2012 não tem data para abrir

A prefeitura diz que basta “vontade política”

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As câmaras para esterilizar instrumentos cirúrgicos são os únicos sinais de que ali existe um hospital. Ou existiria. Pelos corredores vazios, de paredes com pintura nova, não há pacientes, médicos, macas ou suportes para soro. No início do mês, na véspera do limite eleitoral que proíbe inaugurações, o Hospital Regional de Piracicaba (a 160 km de São Paulo), que deveria estar aberto desde 2012, foi enfim "entregue" pelo prefeito Gabriel Ferrato (PSB).

Mas nem a própria prefeitura responsável pela "entrega", porém sem querer assumir a gestão do local; nem o Estado, que deverá administrar o novo serviço, sabem informar quando de fato o espaço se tornará um hospital.

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) afirma que o município ainda precisa concluir ajustes no prédio (por exemplo, adaptações no sistema de climatização) e que os custos de operação são um obstáculo. A prefeitura diz que basta "vontade política".

Anunciada em 2009, a obra já consumiu R$ 79 milhões dos cofres municipais, contra R$ 45 milhões previstos inicialmente. O Estado empenhou R$ 20 milhões em equipamentos, ainda não usados.

"O problema não é fazer prédio. Isso é fácil. Quando estiver totalmente pronto nós vamos pedir credenciamento ao Ministério da Saúde e colocá-lo em operação. O problema é quem vai pagar o custeio de tudo isso", declarou Alckmin nesta terça (26), durante a inauguração de uma penitenciária em Piracicaba.

INTERROMPIDA

A Tratenge, empresa que venceu a licitação, começou em 2010 a obra que foi interrompida dois anos depois.

Para não dizer que inaugurou um hospital que não funciona, a prefeitura tratou o evento na época como entrega das obras físicas.

"Quando foi iniciada esta obra, Geraldo Alckmin disse que o Estado assumiria a gestão. Nossa função então era construí-lo. Agora ele está pronto, basta ocupá-lo e fazê-lo funcionar. Para que isso aconteça é preciso apenas vontade política", afirmou o prefeito Ferrato no evento.

A reportagem visitou o hospital. A não ser por aparelhos de ar-condicionado e câmaras de autoclave, os corredores, a recepção, as salas de cirurgia e UTIs estão vazios.

Torneiras, descargas e redes de água, ar e energia elétrica funcionam normalmente. Na construção, como houve roubo de fios de cobre, hoje há guardas e câmeras.

LEITOS

O projeto foi criado em 2009, pelo então prefeito Barjas Negri (PSDB), que deve se candidatar novamente à prefeitura este ano, para atender 100% pelo SUS, com 126 leitos de internação, 28 de UTI e clínica para cirurgias eletivas.

Em 2013, empresas subcontratadas pela Tratenge passaram a atrasar o pagamento de funcionários. No ano seguinte, o contrato foi interrompido, e só em 2015 a prefeitura definiu uma nova empresa para concluir a obra.

Vizinha do hospital, a dona de casa Rosângela Marques, 41, tem colite crônica, gastrite e anemia. Ela está sem plano de saúde e lamenta ver o prédio ainda fechado. Preciso passar por especialistas com frequência. Estou muito preocupada em como será daqui para frente.

OBRIGAÇÕES

Questionada, a Tratenge afirma que houve diversos atrasos nos pagamentos" pela prefeitura e que cumpriu o contrato. A prefeitura diz que a empresa não cumpriu com suas obrigações.

Dos R$ 20 milhões liberados pelo governo, só R$ 1,5 milhão foram usados, afirma a prefeitura, porque o hospital não ficaria pronto em razão da interrupção das obras.

A Secretaria de Saúde da gestão Alckmin diz que o hospital depende de intervenções da prefeitura e que prevê o repasse do prédio Estado em outubro, quando contratará uma organização social para gerenciá-lo.

O impasse, porém, continua. A Prefeitura de Piracicaba afirma que "todas as exigências do governo para a obra física foram atendidas.

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