Após deputados aprovarem emendas que descaraterizaram a proposta das dez medidas contra a corrupção, a força-tarefa da Lava Jato ameaçou parar os trabalhos, se o presidente Michel Temer sancionar a lei.
Aprovado nesta terça-feira (29) na Câmara, o PL 4.850/16 ainda precisa ser aprovado pelo senado antes da sanção.
A declaração de Carlos Fernando Lima, procurador da República, é clara: “Vamos renunciar coletivamente à Lava Jato caso essa proposta seja sancionada pelo presidente”.
A idéia dos procuradores é abandonar a força-tarefa da Lava-Jato e voltar às suas atividades habituais. Nesse caso, caberia à PGR (Procuradoria-Geral da República) designar outros procuradores ou decidir se encerraria a equipe.
"Nós vamos simplesmente retornar para nossas atividades habituais porque muito mais valerá a pena fazer um parecer em previdenciário do que se arriscar investigando poderosos", afirmou o procurador Deltan Dellagnol, coordenador da Lava-Jato, em coletiva de imprensa em Curitiba.
Ele classificou a votação como o "mais forte deferido contra a Lava-Jato em toda a sua história”. De acordo com ele, os deputados reagiram às investigações. "Fizeram isso porque estamos investigando. Chegaríamos muito mais longe", afirmou.
"Fica claro com a aprovação desta lei que a continuidade de qualquer investigação sobre poderosos, sobre parlamentares, sobre políticos, cria riscos pessoal para os procuradores. Nesse sentido, nossa proposta é de renunciar coletivamente caso essa proposta seja sancionada pelo presidente", afirmou o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima.
Das dez medidas propostas, os pontos mantidos foram apenas a criminalização do caixa dois (dinheiro para campanha não declarado) e inclusão de alguns crimes na categoria de hediondos apenas se o valor desviado for superior a R$ 8,8 milhões
A medida foi inserida pela Câmara ao pacote de 10 medidas contra a corrupção nesta madrugada.
Em nota lida durante a entrevista, os procuradores disseram que a votação desta madrugada foi o ''começo do fim da Lava-Jato''.
''É o golpe mais forte contra a Lava Jato em toda sua história', disse Dellagnol.
Para os procuradores, os deputados foram movidos por um 'espírito de autopreservação'.