O presidente Lula (PT) está programando um gesto público de reconhecimento ao ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT-PI), em uma semana crucial para a definição do caminho da reforma ministerial, que tem sido aguardada pelo grupo político conhecido como centrão. O partido Progressistas (PP) tem como alvo a pasta de Dias.
Lula planeja uma viagem ao Piauí, estado de origem do ministro, para participar do lançamento do programa Brasil Sem Fome, marcado para o dia 31 de agosto. Essa viagem ocorrerá imediatamente após o retorno de Lula de uma visita à África, que começou neste domingo (20).
Esse movimento está sendo interpretado por assessores de Lula como uma demonstração de apoio e uma forma de afirmar que Dias permanece no cargo durante a reforma ministerial negociada entre o Palácio do Planalto e o centrão. O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) é responsável pelo programa Bolsa Família e é uma área de grande importância para o Partido dos Trabalhadores (PT).
O ministro Dias enfrentou críticas internas e também de líderes do Congresso que têm a intenção de ocupar a pasta a fim de direcionar recursos para emendas parlamentares e investimentos em centros de assistência social pelo país.
A manifestação pública de apoio ao lado do ministro Dias está sendo entendida por aliados do governo como uma mensagem ao centrão de que Lula não planeja afastar o PT do controle das políticas sociais e de que não pretende realizar alterações no Bolsa Família, um dos programas mais emblemáticos para o público mais carente.
Adversário político
É importante destacar que Dias e o senador Ciro Nogueira (PI), que é presidente do PP, são adversários políticos. Portanto, o lançamento do programa do ministro no Piauí é visto também como um indício de que a pasta dificilmente será entregue ao centrão.
O projeto Brasil Sem Fome foi apresentado a Lula e ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, durante uma reunião no Palácio do Planalto na semana passada. Isso aconteceu pouco depois de o PP comunicar ao presidente sua intenção de ocupar o ministério.
O objetivo desse projeto é aprimorar a coordenação entre as políticas públicas e os programas sociais, com o foco na erradicação da pobreza no país. Após o encontro, Dias divulgou um vídeo informando que o presidente aprovou a proposta e o incentivou a continuar trabalhando nesse sentido.
Integrantes do governo, membros do PT e do próprio ministério confirmaram que, durante a mesma conversa, Lula afirmou a Dias que assinará o decreto de criação do Brasil Sem Fome durante um evento no Piauí.
Vale mencionar que o Piauí foi o local do lançamento do programa Fome Zero, que precedeu o Bolsa Família, cerca de 20 anos atrás. Nessa época, Dias era o governador do estado.
Dias na campanha eleitoral pró-Lula
O ministro também foi um dos coordenadores da campanha presidencial no ano passado e é um dos petistas mais próximos a Lula. No entanto, nos últimos meses, Lula expressou a colegas próximos no Palácio do Planalto sua preocupação de que o ministro precisa demonstrar mais foco e intensificar as atividades positivas.
Dado que esse ministério abriga uma das principais vitrines do governo, Lula esperava que a pasta fosse um local para anúncios que impulsionassem a imagem do presidente, o que não estava acontecendo, segundo a avaliação do próprio chefe de governo.
Diante disso, o nome do ministro chegou a ser discutido como parte das negociações para a reforma ministerial. No entanto, o PT reagiu de forma a proteger a área social.
O próprio ministro reagiu à pressão, liberando verbas para obras e projetos em redutos eleitorais de membros influentes do Congresso e aliados do governo. Essa verba foi retirada do fundo que Lula herdou após o fim das emendas de relator, uma vez que esses recursos são muito cobiçados pelo centrão.
Centrão de olho em emendas
O maior obstáculo na reforma ministerial está centrado no futuro do PP. O partido busca um ministério com um orçamento substancial e com a capacidade de direcionar emendas parlamentares.
O centrão chegou a sugerir que Lula transferisse o Bolsa Família para outra pasta, como a Casa Civil, enquanto o Desenvolvimento Social ficaria sob responsabilidade do PP, mas sem o programa de transferência de renda.
No entanto, essa proposta não foi aceita pelo PT nem pelos especialistas da área de assistência social. A justificativa é que o programa precisa estar sob a liderança de quem comanda as outras políticas sociais. Esse princípio é justamente a base do Brasil Sem Fome, que será lançado por Lula e Dias.
O projeto não deve gerar novas despesas públicas, mas sim coordenar as iniciativas já existentes nos âmbitos federal, estadual e municipal – incluindo o Bolsa Família, o programa de aquisição de alimentos de pequenos agricultores, entre outros – com o intuito de aprimorar a eficácia das ações de combate à fome. O presidente almeja retirar o país novamente do Mapa da Fome.
Outro argumento que tem sido apresentado a membros do centrão e do Palácio do Planalto é que o PP foi informado de que poderá assumir a Caixa Econômica Federal, instituição responsável pelo pagamento do Bolsa Família e que é vista por membros do governo como um ativo de grande importância, equiparado a um ministério influente.
Fontes próximas a Lula indicam que, embora não tenha sido possível finalizar o esboço da reforma antes da viagem do presidente à África, a intenção é resolver o impasse quando ele retornar ao Brasil.
Saiba mais em: Meionorte.com