O presidente Lula (PT) deixou claro aos seus aliados que não pretende ceder à pressão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em relação ao ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), encarregado da articulação política do governo com o Congresso Nacional. Lira tem adotado um tom desafiador e comunicou a pessoas próximas à Lula que, sem a substituição de Padilha, a agenda legislativa do governo na Câmara ficaria estagnada.
Com o calendário de 2024 marcado por eleições, a equipe de articulação do Planalto enfrenta um desafio adicional, considerando a percepção de que haverá menos tempo para a tramitação de projetos, especialmente durante o período eleitoral, quando tradicionalmente o Legislativo fica menos ativo.
A estratégia dos assessores de Lula é aguardar que a crise se atenue e, nas próximas semanas, buscar uma reaproximação entre Lira e Padilha, possivelmente através de um encontro entre os dois. Por enquanto, a intenção é manter o ministro em seu cargo. Apesar do desgaste na relação, os integrantes do Palácio do Planalto não veem um rompimento definitivo entre Lira e Padilha, embora reconheçam que a situação não esteja favorável.
Lira indicou a aliados de Lula que seu descontentamento se dirige a Padilha, e não ao governo como um todo. Por isso, os governistas acreditam que o presidente da Câmara estaria disposto a dialogar com outros ministros do PT, como Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda), além do líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), e o próprio presidente Lula.
Na quarta-feira (31), Rui e outros representantes do presidente foram à residência oficial da presidência da Câmara, em Brasília, onde Lira reiterou suas preocupações em relação à articulação política do governo e a pautas sensíveis, como o veto presidencial a R$ 5,6 bilhões em emendas parlamentares para 2024, ano eleitoral.
O Planalto recebeu a informação de que Lira pretende se reunir com Lula nos próximos dias. Os assessores do presidente esperam que o deputado tente obter o apoio do governo para seu candidato à presidência da Câmara, cuja eleição ocorrerá daqui a um ano, e também para suas ambições políticas futuras, incluindo a possível candidatura ao Senado por Alagoas em 2026.
No entanto, membros da equipe de Lula afirmam que Lira tem adotado uma postura hostil em relação ao governo, como demonstrado por sua ausência em eventos importantes, como o Democracia Inabalada e a posse de Ricardo Lewandowski no Ministério da Justiça. Isso, segundo eles, pode abrir espaço para que Lula estreite laços com outros líderes do Congresso, como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP).
A base de apoio de Lira na Câmara foi fortalecida com a expansão das emendas parlamentares, especialmente durante o governo Bolsonaro, o que aumentou o poder da cúpula do Congresso. Lira desempenha um papel central na distribuição desses recursos entre os deputados. No entanto, na gestão Lula, os líderes da Câmara e do Senado perderam parte da influência sobre o processo de liberação e execução desses repasses, que passaram a ser centralizados no Ministério liderado por Padilha.
Os assessores de Lula expressam confiança de que o presidente manterá Alexandre Padilha em seu cargo, com as mesmas responsabilidades, uma vez que ele é considerado crucial para mediar com o Congresso um modelo de gestão das emendas que esteja alinhado com os interesses do governo — onde o Palácio do Planalto determine o ritmo dos pagamentos e participe ativamente das negociações políticas. Além disso, eles argumentam que substituir Padilha neste momento poderia resultar em um fortalecimento ainda maior de Arthur Lira, em detrimento de enfraquecer o próprio Executivo.
(Com informações da FolhaPress - Thiago Resende e Victoria Azevedo)