A presidente Dilma Rousseff afirmou em entrevista coletiva, nesta quarta-feira (16), no Palácio do Planalto, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá "os poderes necessários" para ajudar o país como novo ministro-chefe da Casa Civil.
Ela fez a afirmação ao ser questionada sobre a possibilidade de Lula vir a se tornar um "superministro" e ter "superpoderes".
"Tem seis anos que vocês tentam porque tentam me separar do Lula. A minha relação com o Lula não é de poderes ou superpoderes. É uma sólida relação de quem constrói um projeto junto", declarou a presidente.
"O presidente Lula, no meu governo, terá os poderes necessários para nos ajudar, ajudar o Brasil. Tudo o que ele puder fazer para ajudar o Brasil será feito, tudo", afirmou.
Segundo Dilma, um dos motivos para que o ex-presidente Lula tenha sido convidado para integrar o ministério é o compromisso dele com a estabilidade fiscal e o controle da inflação.
Dilma afirmou que esse compromisso não é "meramente retórico" e, segundo disse, "se expressa numa situação muito significativa que é atuação ao longo dos oito anos do governo dele".
Dilma afirmou que Lula teve dúvida se deveria assumir o cargo de ministro, em razão "da situação de confronto que a oposição poderia fazer" devido à investigação do ex-presidente na Operação Lava Jato.
Todos os ministros de estado têm foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF). Assim, a consequência prática mais imediata da nomeação de Lula é que o ex-presidente sai do alcance do juiz federal Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, responsável pela Lava Jato na primeira instância, e passa para o âmbito do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
"Até que ponto você acha que a investigação do Sérgio Moro é melhor que a do Supremo?", indagou a presidente. "É inversão de hierarquia, me desculpa", afirmou.
A presidente disse ainda não entender porque “criam” a hipótese de que Lula estaria tentando se “esconder” de Sérgio Moro.
“Por trás dessa afirmação, de que iria ele [Lula, ao ser nomeado] se esconder [do juiz Moro], está a desconfiança sobre a Suprema Corte do país. É isso que as oposições querem colocar? Por quê?”, acrescentou.
Dilma se declarou "muito feliz" com a incorporação do ex-presidente ao ministério porque, segundo ela, ele é "um hábil articulador".
"Convivi com ele, ele me deixa muito confortável. Temos seis anos de trabalho cotidiano juntos durante a segunda fase do governo dele", afirmou.
CONDUÇÃO COERCITIVA
Como na semana passada, Dilma voltou a criticar a condução coercitiva do ex-presidente Lula pela Polícia Federal – ela já havia dito que avaliava a ação como algo que "ultrapassou todos os limites".
A presidente classificou como algo “estranho” a operação da PF, uma vez que, segundo ela, “sempre que chamado, Lula deu as explicações suficientes e nunca se recusou a dar explicações.”
“O presidente Lula é uma pessoa que não pode ter sua biografia destruída desta forma. Não está certo isso. [Chamá-lo para a Casa Civil] mostra minha confiança sobre a trajetória dele, a biografia dele e no compromisso dele com todas as práticas corretas e idôneas”, disse.
ECONOMIA
Dilma afirmou que os ministros Nelson Barbosa (Fazenda) e Alexandre Tombini (Banco Central) não deixarão o governo com a entrada de Lula no ministério. Segundo a presidente, os dois "estão mais dentro do governo do que nunca".
A presidente afirmou também que as reservas superiores a US$ 370 bilhões que o Brasil acumulou ao longo dos últimos 13 anos "jamais" serão usadas "para algo que não seja a proteção do país contra flutuações internacionais".
"As reservas também podem ter papel em relação à dívida, mas não são a forma adequada de se solucionar as questões de investimento. As especulações que existem sobre uso das reservas são especulações e só beneficiam uns poucos que lucram com ela e tentam criar situação de especulação. Sabemos porque criamos esse volume de reservas, e isso significa proteção contra flutuações internacionais e funcionaram muito bem", declarou.
MERCADANTE
Em outro trecho, Dilma disse não ter motivos para perder a confiança no ministro da Educação, Aloizio Mercadante. O petista foi citado na delação premiada do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS), homologada pelo STF e divulgada nesta terça (15).
No depoimento, Delcídio afirmou aos procuradores que Mercadante lhe ofereceu ajuda política e financeira para não fechar o acordo de delação. Após o conteúdo do depoimento ser noticiado, o ministro da Educação convocou a imprensa para negar as acusações do senador.Mais cedo,
Mercadante esteve no Alvorada convocado por Dilma para uma reunião. Ele deixou o encontro sem falar com a imprensa.
“O ministro Mercadante deu explicações satisfatórias. O que contava na revista ‘Veja’ não colocava todas afirmações do ministro. […] E eu suponho que seria importante que divulgassem a íntegra. É que nem você divulgar uma parte e, desta parte, você tirar a conclusão. [...] Eu não tenho porque não manter a confiança no ministro Mercadante", declarou.