Durante plenária realizada em São Paulo para decidir a posição do PV no segundo turno, a candidata derrotada do partido, Marina Silva, que teve quase 20 milhões de votos no primeiro turno e ficou em terceiro lugar, afirmou que manterá uma posição de "independência" nesse momento das eleições.
Após ler uma carta aberta aos presidenciáveis José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), na qual reafirma sua posição e elogia a convivência política que teve com os candidatos, Marina criticou a "dualidade" que existe na política, segundo a senadora, desde a monarquia, e disse que seu posicionamento é a melhor forma de ajudar o povo brasileiro.
"Quero afirmar que o fato de não ter optado por nenhum lado nesse momento não mostra neutralidade. Uma posição de independência é a melhor forma d contribuir com o povo brasileiro. Já disse algumas vezes que me sinto muito feliz, aos 52 anos, de ter uma posição de independência e utopia. Hoje vejo que utopias não são horizontes do impossível, que nos dá rumo, a visão que temos no presente que será real e podemos conquistá-la no futuro. É com esse compromisso, maturidade política, que hoje lhes dirigi essas palavras".
Após a leitura da carta, a plenária do PV votou e apoiou a posição de "independência" de Marina Silva. No universo 92 pessoas habilitadas a votar na convenção do PV, apenas quatro se manifestaram a favor de que o partido apoiasse alguma candidatura no segundo turno das eleições.
Leia trechos da carta de Marina aos candidatos
"Quero afirmar que o fato de não ter optado por nenhum lado nesse momento não mostra neutralidade. Uma posição de independência é a melhor forma de contribuir com o povo brasileiro. Já disse algumas vezes que me sinto muito feliz, aos 52 anos, de ter uma posição de independência e utopia. Hoje vejo que utopias não são horizontes do impossível, nos dá rumo, a visão que temos no presente que será real e podemos conquistá-la no futuro. É com esse compromisso, maturidade política, que hoje lhes dirigi essas palavras".
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"Agora, ironicamente, PT x PSDB. Há de perguntar por que PT e PSDB estão nessa lista. Uma ironia da história. Dois partidos nascidos para firmar diversidade da sociedade brasileira. (...). O mergulho desses partidos no pragmatismo da antiga lógica empobrece o horizonte da inadiável reforma política que o Brasil proclama. (...). Paradoxalmente, PT e PSDB, duas forças que nasceram inovadoras e ainda guardam a marca de origem em seus quadros são hoje os criadores desse conservadorismo que paralisa a utopia em nome desse pragmatismo".
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"Arma-se o eterno embate. (...) Na armadilha prende-se a sociedade brasileira, constrangida a ser apenas torcida, quando deveria ser protagonista, ao optar por pacotes políticos. Entendo, porém, que o primeiro turno de 2010 trouxe uma reação clara ao sinal desse esgotamento. A votação expressiva a minha candidatura e de Guilherme Leal sinalizam sem dúvida a vontade de fazer uma política diferente. Poder contribuir positivamente para quebrar a dualidade histórica que muito tem limitado a política do Brasil".
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"Durante o primeiro turno, quando me perguntavam sobre como iria compor o governo e ter sustentação no Congresso Nacional, sempre dizia que iria governar com os melhores de cada partido. Peço que vejam na votação concedida pelo PV algo que ultrapassa meu nome e não se deixem levar por análise passageira. Esses votos configuram em seu conjunto um recado político relevante. Entendam um desejo enraizado do povo brasileiro de escolher outros valores e conteúdos".
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"Quem tentou desqualificar o voto evangélico não entendeu que os evangélicos vão alem do propósito espiritual. (...) Perceberam que procurei respeitar a fé que professo sem fazer dela uma arma eleitoral. Os exemplos de cristãos como Martin Luther King e Mandela mostram que podemos fazer política ambiental com base em preceitos religiosos. Não há porque estigmatizar convicções religiosas ou a ausência delas quando mesmo diferentes nos encontramos na base comum, entre elas a apropriação material e imaterial indevida daquilo que é público, seja por meio de corrupção ou má utilização". (...)
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"O cidadão vota contra um lado, antes mesmo de ser a favor do outro. Na escolha, o voto se constrói na história, na ampliação de novas alternativas, em uma sociedade cada vez mais complexa. A escolha agora é a atitude de vocês, mais do que o resultado nas urnas, que pode demarcar uma renovação política do Brasil".
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"Não estamos apenas diante de fenômenos da natureza. O mega fenômeno que temos que lidar é o encontro da sociedade com os limites de vida e o que temos que mudá-lo. Não se trata apenas de ter políticas ambientais corretas ou incentivar os cidadãos a reverem seus hábitos de consumo. É necessário uma nova mentalidade, parâmetros de qualidade de vida".
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" novo milênio que se inicia necessita justiça (...), novas formas de explorar os recursos naturais sem reduzi-los. (...) Esse é o sentido que chamamos de desenvolvimento sustentável. (..) É esse mesmo desenvolvimento sustentável que não existiria se não estiver na cabeça e coração dos dirigentes políticos (...). Será apenas discurso contraditório se reduzido a ações contraditórias".
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"O segundo turno é uma nova chance para todos. Para candidatos e coligações comprometam-se com propostas e campanhas que possam sair das urnas. (...) Para os cidadãos possam pensar mais uma vez em tornar seu voto a expressão de uma exigência maior. E que a manutenção de conquistas alie-se a correção de erros e ao preparo para os novos desafios. Mesmo sem concorrer, estamos no segundo turno. Com nosso programa, que reflete as questões aqui colocadas. Essa é a nossa contribuição para que o processo eleitoral ultrapasse os velhos costumes. Como disse, ousei lhes dizer essas reflexões não como formalidade ou encenação política nessa hora tão importante do Brasil. Mas porque acredito que tem terreno fértil para levarmos adiante esse diálogo. Sei disso pela relação que mantive com ambos ao longo de nossa trajetória política.
De José Serra, guardo a experiência de ter contado com a sua solidariedade quando no Senado precisei de apoio para aprovar uma inédita linha de crédito para os extrativistas da Amazônia e para criar subsídios para a borracha nativa. Serra se dispôs a ele mesmo defender em plenário a proposta porque havia o risco de ser rejeitada caso eu a defendesse.
Com Dilma Rousseff, tenho mais de cinco anos de convivência no governo do Presidente Lula. E para além das diferenças que marcaram nossa convivência no governo, essas diferenças não impediram uma atitude respeitosa e disposição para parceira como aconteceu na elaboração do novo modelo do setor elétrico.
Estou me dirigindo a duas pessoas dignas, com origem no que há de melhor na política do Brasil. Desde a generosidade e desprendimento na luta contra a ditadura na juventude até a efetividade dos governos que participaram e participam, para levar o país avanços expressivos. Por isso me atrevo, seja quem for presidente do Brasil, a chamá-los a liderar o país para além de suas razões pessoais e partidárias, trocando o debate pelo embate fraterno em nome do Brasil".